Seu pequeno Mundo de Cristal



Me aproximo devagar,
como se não soubesse o que dizer,
o silencio exala da sua pele alérgica.
Tento te tocar de alguma forma,
mesmo sem jeito, você se retrai,
cria esse mundo dentro de uma bola de cristal,
nada te perturba ali dentro, nem o som da minha voz,
que cala lentamente enquanto a neve cai.
Você diz que adoece mas não diz por que,
sou eu tua doença incurável,
minhas palavras te machucam,
e quando me calo te machucam ainda mais,
O que faço para viver nesses flocos de neve
que são seus sentimentos ?
Que caem e adormecem no chão
e só se mostram vivos se agitar,
se deixar de cabeça para baixo.
Me afasto rápido demais, na minha boca mora
o amargo, que um dia já foi doce nos teus lábios
de mulher, que já foi seco nas suas palavras de adeus,
que já foi lagrimas em algum ponto dessas viradas.
Jogo com força a bola na parede, deixa um
rastro por onde passa, um rastro de agua, de
sangue da minha mão cortada, de destruição.
Uma boa noite, durma com os anjos meu amor,
por que hoje eu não durmo, minha bola de cristal
se desfez, e com ela minha noite.




Quem eu sou.



Um dia eu tomei coragem
e fui até o seu quarto, agora trancado,
lembranças demais espalhadas pelos
porta retratos, pelas letras escritas em
um papel qualquer, muito do seu
cheiro em algum vidro de perfume,
muita saudade dentro dessas paredes.
No seu armário ainda estão suas camisas,
seus tênis, e seu gosto extravagante por
roupas caras demais, ainda tem um relógio,
uma chuteira, e uma foto perdida.
Nela você esta sorrindo, espero que você
tenha sido feliz, descobri sua coleção de LPs,
eu vi capa por capa, abri um por um,
decorei cada nome de banda, cada
canção que estava escrita, cheguei
em casa e procurei na internet.
Ouvi milhares de vezes as mesmas canções
que você, eu usei suas roupas, ri das suas
historias, mesmo não sendo você me contando,
eu vivi cada pedaço seu, me dói demais
não poder ter conversado uma vez sequer
com você, droga, eu só queria um até logo.
Queria ouvir aquele LP do Scorpion com você,
eu queria ter tido mais tempo, só mais um pouco,
eu abri a porta do seu quarto por que eu
queria saber quem você era.
Acabei descobrindo que muito de você esta
dentro de mim, e que eu jamais poderia
enxergar o mundo sem seus olhos, sem
seu gosto musical, sem sua alegria.
Eu tranquei a porta, mas deixei gravada
sua essência em mim.



Preciso falar sobre ela.



Ela é de câncer, é morena,
tem o sorriso mais lindo desse mundo,
que só fica evidente quando acorda cedinho,
me olha, sorri e volta a dormir.
Eu fico a noite inteira acordado,
faço contas com as moedas do meu bolso,
pra sonhar em quantos anos suados vou poder
te levar pra nossa casa, com aquela mesa de jantar
rustica do jeito que você gosta, com uma penteadeira
bem bonita, e um lugar para colocar nossas fotos.
Ter um hamster e um cachorro? Ou só um hamster?
Eu não sei, pelas minhas moedas, só um ratinho mesmo.
Nunca planejei mais do que um mês da minha vida,
agora me vejo enxergando uma vida inteira,
viagens que ainda faremos, os lugares que
vamos odiar, os lugares onde vamos morar,
e os que só vamos olhar pela janela do trem.
Sua mãe passa pela sala e nos olha deitados
na cama, você dormindo e eu te observando,
é tão bom ter uma segunda casa, uma segunda
família, sempre tenho medo de estar dando
trabalho demais para eles, mas família é pra atrapalhar,
não é mesmo? Bom, eu acho que sim.
Da ultima vez que eu nos apresentei enchi meu peito
para falar “Nós”, “Nós somos namorados!”, impactante,
ouço um “que bonitinhos!”, abro um sorriso de orelha a
orelha enquanto ela cora inteira. É tão estranho,
como eu aprendi a me desapegar de coisas bobas,
como falar “eu”, era tudo “eu” isso , “eu” aquilo,
agora somos nós, NÓS, plural, bonito, não é ? Bonitinhos.
Enquanto você dorme e de cinco em cinco minutos
me manda dormir também, eu penso no quanto você
me salvou, em quantas vezes você beijou minhas feridas
para elas sararem, em quanta paciência você tem comigo,
e no quanto você me faz bem.
Uma lagrima cai, e você acorda, fala pra mim,
 “chora não mor”, eu dou uma risada, e falo “besta”,
você sorri, e me salva novamente do mar de lagrimas
por onde navega tranquila minha felicidade.




Detalhes.




Ela gosta de pegar na minha mão,
eu tenho medo de suar, tenho medo
de estar mal vestido, ela esta sempre
muito bem arrumada, tenho medo
de falar besteira, de fazer alguma coisa errada,
e a encaro pra ver se decifro sua cara enigmática.
Passou o calor, o tempo, e o medo,
agora ela usa jaqueta, o frio traz ela pra perto,
traz seu cheiro consigo, me invade, me perfuma
com alegria, estou feliz, na grama olhando o céu,
podia ser o final de um livro infantil, e “viveram
felizes para sempre observando as estrelas”.
Arrumo a mala, faltou uma meia, sempre esqueço
alguma coisa, ela fica, fica triste, eu esqueço
meu pensamento, ele também ficou aqui.
Sinto o salgado do mar, sinto o vento gelado da noite,
sinto falta do seu toque, da sua mão esquerda no meu rosto,
me sinto feliz, estou voltando, chegando em sua porta.
Um beijo longo, amanhã vou partir de novo,
me mata ter que deixar ela desse jeito, mão na mala,
mão no peito, aperta, dói, saudade, sozinho na cama,
não consigo dormir,  escuto uma das suas musicas preferidas,
só com o silencio pra me fazer companhia.
Eu volto, ela me espera, me espera acordada,
preocupada, e eu acabado sem sua presença,
já pode dormir meu amor, estou bem, boa noite.
Eu a beijo, ela quase chora, diz saudade, diz medo,
digo que estou aqui, não vou pra lugar nenhum,
ela me beija, sinto seu gosto, sinto medo, medo
de não saber mais viver sem ela, medo de contar
que ela é o significado de tudo, que sem ela eu não
tenho por que voltar, ela me abraça, me conforta
com silencio, só ela sabe como medir a minha ansiedade
em ouvir sua voz, ela diz no meu ouvido, bem baixinho,
um segredo, pra eu guardar pra sempre comigo,

EU TE AMO.






Ela é de Plutão



Ela é de Plutão, e ela nem liga que
lá não é mais planeta, ela orbita meus
pensamentos, e ri do meu desconserto,
quando tímido fico, e pouco falo, ela
rompe o silencio com o olhar, me corta
no meio da frase com um sorriso.
Com o vestido preto cheio de robozinhos,
senta no meu colo, e diz pra descansar,
meu coração se aninha no peito, estou
seguro, aqui é onde posso repousar.
Ela me acorda assustada, o mundo lá
fora da medo, eu puxo ela pra perto,
digo pra não temer, agora é minha
vez de te proteger, de te dizer
que tudo esta bem.
Eu acordo rindo alto, do seu jeito
de falar dormindo, do jeito que
seu cabelo cai no rosto, de como
você me conta piadas, eu rio alto,
de madrugada, você coloca os
dedos nos meus lábios, silencio,
ri em silencio, uma felicidade em segredo.
Ela é meu maior segredo, é aquele
meu livro favorito que não digo pra
ninguém, ela é a dona de uma constelação
inteira de boas lembranças, de promessas
sinceras, e de beijos quentes.
Ela me escreve cartas, e eu escrevo poemas
pra ela, ela adora signos e eu não ligo pra nada disso,
ela odeia o comum, e eu sou um cara tao banal,
mas na hora que o coração decide falar
é só a voz dela que eu ouço.
Ela é de Plutão, e eu estou aprendendo a ser astronauta. 

Me sinta



Sinta o peso das minhas palavras,
a tinta cai duramente sobre o papel,
eu sei, a gente precisa se machucar
de vez em quando, quem não se belisca
 pra sentir se esta mesmo vivo ?
 Às vezes a dor é só a confirmação da vida.
Sinta o amor pairando no ar, uma densa
camada sufocante, sinta o peso de respirar,
sinta a dor de amar, esta sentindo?
ou sou só eu ?
Sinta o peso de viver, sinta todos
aqueles sonhos que eram meus,
os meus segredos, meus anseios,
minha vida, sinta o peso deles no meu olhar.
Esta sentindo ? ou sou só eu ?
Sinta o medo, o suor escorrendo
dentre meus dedos, sinta a falta,
a solidão que brota no peito,
sinta o escuro, a noite e o seu
vento gelado, sinta o que sinto
longe de ti, sinta o silencio.
Você esta sentindo ?
Por que eu sinto, eu sinto o mundo inteiro
me olhando, enquanto rezo pelo seu bem,
eu sinto todo o peso de suas palavras, eu
sinto todo o amor que poderia sentir por
alguém, sinto tudo, sinto a dor, o medo,
a felicidade de amar, sinto você.
Agora me responda, você me sente também ?



A ultima carta de Amor


Não chora menina, mas essa é minha ultima
carta de amor, faz tempo que eu não escrevo,
mas me sinto na obrigação de por um fim
nesse silencio, nesse vazio que ficou aqui,
sem eu tagarelar e você me ouvir a noite inteira.
Não chora menina, às vezes o fim é apenas
um novo começo, às vezes, e só às vezes,
coisas boas surgem de lagrimas, por tanto
chora menos e me escuta mais, que essa é
a ultima vez que vou te dizer tudo isso.
Faz tempo que sofro de insônia, de calafrios,
de coisas que poucas pessoas sabem explicar,
é um vazio que faz eco dentro de mim, me
sinto assim quase todos os dias, e é difícil de
admitir isso, mas é culpa sua, e só sua.
Sinto falta de me sentar no sofá e prestar
atenção em algum filme bobo de amor,
falta de ir andando pro trabalho e pensar
em quantas imagens ainda faltam para
fechar aquele vídeo de casamento.
E tudo isso é culpa sua, eu sei, e lá no fundo,
bem no fundo, você também sabe, desde
que você chegou tudo mudou.
Às vezes me pego no meio da tarde pensando
no que você deve estar fazendo, me deito
e só penso se nos seus sonhos a gente se encontra,
quando você dorme nos meus braços, eu penso
se já existiu alguém mais bonita que você nesse mundo,
e então faz falta, faz frio, faz vazio quando te deixo,
quando meus lábios encerram nosso domingo
em um beijo, desapareço sem você.
Não chora menina, não chora que eu choro com você,
eu compartilho até a ultima lagrima para não te deixar
sozinha, não chora, que são pedaços seus que se vão,
e eu te quero inteira pra mim.
Não chora menina, bota sua playlist pra tocar, que
hoje quero te ouvir, que hoje quero ser espectador
da sua dissecação letrista, não chora não.
Abre aquele sorriso bobo, me da um beijo doce, que dessa
vida eu esqueço, esqueço de respirar, de sentir o ar entrar,
por que só sinto você, e só você me faz sentir.
Então menina, me escuta bem, essa a ultima carta
de amor que escrevo, por que já achei aquilo
que todos nessa vida procuram.
Encontrei alguém para amar, encontrei você.



Quando chove aqui dentro



A gente sabia que hora ou outra choveria,
mas mesmo assim decidimos nos arriscar,
você pegou sua bolsa preta, aquela que
eu te dei no dia dos namorados, pôs seus
óculos escuros e saiu sorrindo, correndo
a minha frente, nunca entendi essa sua
pressa pro inevitável.
Andamos até nossos pés se cansarem,
então você deitou no parque, sem cerimonia,
sem medo de se sujar na grama viva,
colocou sua cabeça no meu colo,
enquanto víamos o sol dormir sobre os
lindos prédios do seu bairro.
Já era hora de voltar, pro lugar
onde a gente se sente mais perto
um do outro, nosso lar, que você insiste
em chamar de casa, e eu sempre
esqueço de te corrigir.
Deitado no sofá eu dormi, e acordei
no outro dia quando a porta bateu,
você não se aguentava de pé, a previsão
do tempo dizia tempo seco, mas dentro
de você chovia, que chegava transbordar.
Fiz questão de te abraçar sem guarda chuva,
e me molhar inteiro, e deixar chover pela sala
toda, enquanto eu contava alguma piada sem
graça, você ria e chovia.
Até que o tempo mudou, fez sol de madrugada,
enquanto você dormia sossegada,
e eu cuidava de assoprar as nuvens pra longe.



Cuida de Mim.



Ela dormiu, no meio da conversa
enquanto tentava me explicar por que
meu signo era tão imperfeito com o dela,
adormeceu tão leve que parecia uma
pena voando pelo ar, tocando o solo
enquanto dançava uma valsa solitária.
Eu nunca contei pra ela, mas eu amo
ver ela dormir, todos seus pequenos detalhes
que só ficam evidentes a meia luz e ao som
profundo de sua respiração, ela é uma
estrela nessa escuridão, ilumina meu dia,
brilha sem medo, sonhando ali.
Eu só agradeço por ser espectador
desse fenômeno, por ser eu o escolhido,
o menino, o moleque, o cara que faz
ela rir, e dormir sorrindo desse jeito,
e há quem diga que eu não sou feliz,
naqueles minutos ali parado em silencio
sou o mais feliz da vida.
Fui desastrado, ela acordou, me olhou
com os olhos brilhando, disse com a
voz de sono, enquanto se remexia,
se encaixava novamente nos meus braços,
“vem cá, cuida de mim”.
Eu não hesitei, apertei ela firme em meus braços
pra proteger dos pesadelos, dei um beijo
na sua testa, e me deixei levar pelo sono,
enquanto eu cuidava dela, ela cuidava
de mim, cuidava de me fazer sonhar feliz.






Quando éramos crianças.



Você por acaso lembra quando
nós éramos crianças?
Por que eu me lembro muito bem.
Nós brincávamos o dia todo
na rua de baixo, comíamos
sorvete toda quarta feira,
e íamos para a escola juntos.
Então começaram as férias,
e a sua festa de aniversario,
lembra disso ? você estava
linda de vestido verde, com
sorriso solto na cara.
Eu não tinha muito dinheiro,
então te dei meu coração
em forma de balão, era bonito,
vermelho, você gostava, era
sua cor preferida afinal.
Você brincou com ele o dia
todo, quando já era tarde,
seu amigo te chamou pra
andar de bicicleta, e lá se
foi meu coração, você soltou ele,
sem cerimonia, simplesmente foi.
Chorei com o vazio que ele deixou,
fiquei sentado de baixo da arvore
onde ele estava enroscado.
Ouvi uma voz doce atrás de mim,
uma menina subiu na arvore e o tirou de lá,
“Lindo balão” ela disse, e me entregou,
“vamos brincar ?”
Correndo amarrei ele forte no peito,
para nunca mais voar, botei meu melhor
sorriso e dei as mãos pra menina que ousou
desafiar me fazer feliz, nunca mais te vi.




Beijos Roubados



A primavera havia acabado, e
com ela todos os nossos beijos roubados.
Nosso amor clandestino, que ardia forte
nas noites frias, saudades eu sinto, quando
as luzes se acenderam eu estava só,
e você mendigando amor para algum estranho.
Saudades eu sinto, quem corria de frente pro
trem desgovernado que era teu amor, que
atropelava quem fosse, e dizia que ali era teu
lugar, meu peito no teu peito, anel no teu dedo.
Quantas vidas terei de viver pra aprender
a desviar deste teu olhar, que cega e suga
meus pensamentos pra dentro dele.
A verdade seja dita, nunca me deixei  levar
pra casa nos dias de chuva, chovia como
nos filmes preto e branco, chovia preto,
chovia escuridão no asfalto, chovia
até dentro do teu salto alto.
Acabou a primavera, e aqui solidão
se fez morada, do silencio dos
teu lábios saem sussurros,
de amor? ao pé do ouvido
do doente, do crente da
vida, vida essa que não
segue sem o teu aval,
então vá, e segue,
Adeus, tchau.





Vai, Sorri !



“Fecha os olhos e sorri !!”
eu continuava rindo, imaginando
minha cara patética naquela foto,
era uma semana depois do seu aniversario.
Eu havia dado essa câmera analógica
que ela tanto queria, só falava disso a
meses, então decidi que seria o presente
perfeito, para o seu aniversario imperfeito.
Todo mundo que ela chamou estava
ocupado, ou de saco cheio do jeito
largado dela, então sobramos eu,
ela e mais dois amigos, um mais estranho
que o outro, mas me convenço que
isso seja normal, ela atrai loucos,
sim, é verdade, por isso estava ali afinal.
“Vai, agora fica sério, para de olhar meu,
sério, vou ficar chateada”
“ta bom” e me acabei de dar risada,
“eu to tentando” disse , então se fez silencio,
só o som da minha voz que volta pros
meus ouvidos  “Ca ?, ta ai ?” abro
os olhos devagar e explode uma luz
forte na minha cara, e sua gargalhada
espanta o silencio.
“sua idiota !” falo sorrindo.
 “Fica tranquilo, por que eu já acabei,
 tenho todas as suas expressões guardadas”
 “pra que?” “
“pra quando eu sentir sua falta”  ela fala sorrindo
e seus lábios se encaixam nos meus,
estou sorrindo.





Olhos Vermelhos



Eram duas da manhã e o sono
não lhe convence, a madrugada
dói em silencio profundo, do
escuro que surgem os sussurros,
as palavras que não foram ditas
durante todo o dia, se perdendo
do lábio pra fora pra ninguém ouvir.
A briga havia sido feia, ela saiu
chorando, e ele ficou lá com aquela
cara de bobo que sempre ficava
quando achava que tinha razão,
sua mãe sempre falava, menina
não chora por quem não te ama,
mas pra ela era difícil, por que
ela sim, amava ele.
Pouca coisa sobrara daquela noite,
um pouco de conhaque, um travesseiro
molhado, e umas fotos rasgadas,
que agora estavam espalhadas por
toda a cama, por todo o quarto.
Dessa vez ela limpou as lagrimas
e prometeu nunca mais voltar lá,
não merecia mais aquilo, então
seu telefone tocou, não era ele,
ela sorriu, pelo jeito ela dizia a verdade.




A Menina Submersa.



Chovia há vários dias,
chovia sem parar e ela decidiu
sair pra aquietar o coração,
ver a lua brilhar sob o afasto,
e ouvir os pingos caindo no telhado.
Nunca fora boa com as palavras
então aquela semana inteira estava
entalada em sua garganta, e ela
só queria gritar, gritar aos quatro
cantos o quanto doía.
Ela nunca fora amada,
quem tentou caiu no seu
jeito macio, na sua fala cantada,
no seu canto da sereia,
que quando se davam por si,
desistiam de imediato.
Ela seguia sozinha triste a pensar
naquela água toda que escorria
rua abaixo, escorria dos seus olhos.
Deixara escapar quem se importava
por seus versos, e agora vivia agarrada
a velhas frases de seus poemas,
“Maldito amor, Mal dito, Mal Amado,
e pouco vivido.”
Deu um passo a frente e encontrou
aquele mar, que invadiu seu peito,
tomou seu ar, e seu coração,
que era a única coisa que ainda
doía, e aos poucos foi se anestesiando,
ficando dormente, até seus pensamentos
se calarem, finalmente a paz.





A Encantadora de Corações.



Ela dança rodeada de borboletas,
desenhadas a mão, já te disse que
ela é artista ? pois é, daquelas que
não sabe o dom que tem, além
de dominar as artes da vida, ela
sabe como ninguém encantar
um coração.
É só ela vir, que quem anda tropeçando
por aí, da de cara na felicidade,
o sorriso inflama no rosto, essa
doença que só ela que traz, coisa linda,
coisa rara, colorindo com giz de cera
o caminho por onde passa, fazendo
arco íris em um prédio cinza.
É tão lindo ver ela caminhar a passos
largos, sem rumo, se vira, me olha,
e diz como quem não quer nada
mais nessa vida, você não vem ?
E eu vou, fui, fui encantado, felicitado
por tanta paz, ela rodopia segurando
minha mão e volta pro meu braço,
invade sem querer meu ser, e nessa
dança eu me desconcerto, e volto a sorrir,
a gargalhar, me fiz feliz.
Me rendo, sou todo teu,
do meu coração faz o que quiser,
só promete não ir, e deixar teu efeito
passar, me libertar desse encanto,
pra voltar pro cinza, pro acorde desafinado
do meu despertador, da minha dor.

A vida inteira




Ele chorou.
Fazia 50 anos que não
chorava daquele jeito,
as lágrimas até se perderam
no meio de tantas rugas,
de tantas marcas de vida,
vida feliz, eram marcas de riso
que se agarraram ali.
As lágrimas finalmente
encontram o sorriso aberto,
sempre me disse, a vida inteira
 “se for pra você chorar que
chore de felicidade”, e lá
estava ele a 50 anos sorrindo.
Ela entrou, estava de branco,
sem buque, sem maquiagem,
sem disfarces, eram amantes
a vida toda, não seria agora
que ela começaria a se esconder.
Sua filha, morena, linda, feliz,
acompanha ela pelo caminho
até o grande amor de sua vida.
Sem pressa, elas andam juntas,
como quando ela era pequena,
e sua mãe a levava ao parquinho,
balançando os braços levemente, felizes.
Quando ela finalmente chega,
ele a recebe, com um delicado
beijo na testa, da mesma forma
que fizera a tantos anos atrás,
a abraça devagar, alcança
seus ouvidos apenas para
lhe dizer:
 “Onde você estava?
Estava aqui te esperando a 50 anos”
Ela abriu um sorriso de 20,
e se entregou as
 lágrimas também.