Lágrimas empoeiradas



Minhas lágrimas molharam o rio,
encharcaram as folhas das árvores,
criaram vida neste cinza infinito,
nasceram rosas com espinhos.
O vento bate a velha porta de madeira,
a chuva enferruja o que sobrou
das trancas, minhas memórias
ardem em fogo, me mantem vivo
nesse inverno, nesse frio.
A viola empoeirada se desfez
junto com suas fotos, tudo
virou pó, virou dor,
viraram mais lenha pra
minha lareira.
Nessa ultima cadeira,
nesse ultimo som de vida,
no ultimo bater do coração,
na ultima pagina desse livro
estava escrito...

                Fim.




Imagem : Eduardo Almeida.

Se foi...



Minhas cartas se esparramaram
encima da mesa, voltaram todas
de onde vieram, do meu peito
triste e vazio, onde sequer
sobrou vida para usar de
tinta para novas cartas.
Você me gastou aos poucos,
como se gostasse de ver
um amor morrer, como
se amasse o final dos
filmes tristes.
Maldita seja ela,
malditas sejam suas
palavras a quem juras
amor alem de mim.
Não há mais lagrimas
a se gastar, foi lindo,
foi rápido, foi doloroso,
e se foi...



Imagem : Emila Duarte.



Pai



Neste dia tão triste,
caem rosas sobre seu tumulo,
caem lagrimas de meu rosto,
caem anos dos calendários.
Seus olhos ainda vivem
em meu rosto, suas feridas
ainda doem em meu peito,
sua voz se perdeu como
uma estação de radio
que não existe mais.
Você foi sumindo das
minhas fotografias,
dos meus desenhos de
criança, das minhas
historias, das minhas
lembranças...
Não há um dia que tua
falta não me mata,
que a saudade não bata,
que as lagrimas não caiam,
não há um dia em que
eu não desvaneço...
O que restou de ti eu guardei
em uma caixa e enterrei em minhas
lembranças, para que um dia
descanse em meu peito, como um lindo
 soneto composto por quem não esta mais lá.



Hora de Acordar



Escrevi teu nome em minha pele
como se eu sobesse realmente qual é,
como se lembrasse de um sonho
onde teus lábios me confessaram,  
escrevi teu nome com uma caneta
tão falha quanto o tempo que
falhou em nos encontrar.
Teus retratos são fotos encardidas
de outra vidas, de outras lagrimas
derramadas, de outras feridas,
a vida não quis nos
transformar em nada mais.
No ultimo trem da estação,
no ultimo vagão você sentou
ao meu lado, com seu tênis
preto desamarrado, me encarava
inquieta, só lhe fiz uma pergunta.
Que horas são ?
Com seus labios secos me disse,
é hora de acordar....



Imagem : José Magalhães.