Quando chove aqui dentro



A gente sabia que hora ou outra choveria,
mas mesmo assim decidimos nos arriscar,
você pegou sua bolsa preta, aquela que
eu te dei no dia dos namorados, pôs seus
óculos escuros e saiu sorrindo, correndo
a minha frente, nunca entendi essa sua
pressa pro inevitável.
Andamos até nossos pés se cansarem,
então você deitou no parque, sem cerimonia,
sem medo de se sujar na grama viva,
colocou sua cabeça no meu colo,
enquanto víamos o sol dormir sobre os
lindos prédios do seu bairro.
Já era hora de voltar, pro lugar
onde a gente se sente mais perto
um do outro, nosso lar, que você insiste
em chamar de casa, e eu sempre
esqueço de te corrigir.
Deitado no sofá eu dormi, e acordei
no outro dia quando a porta bateu,
você não se aguentava de pé, a previsão
do tempo dizia tempo seco, mas dentro
de você chovia, que chegava transbordar.
Fiz questão de te abraçar sem guarda chuva,
e me molhar inteiro, e deixar chover pela sala
toda, enquanto eu contava alguma piada sem
graça, você ria e chovia.
Até que o tempo mudou, fez sol de madrugada,
enquanto você dormia sossegada,
e eu cuidava de assoprar as nuvens pra longe.



Cuida de Mim.



Ela dormiu, no meio da conversa
enquanto tentava me explicar por que
meu signo era tão imperfeito com o dela,
adormeceu tão leve que parecia uma
pena voando pelo ar, tocando o solo
enquanto dançava uma valsa solitária.
Eu nunca contei pra ela, mas eu amo
ver ela dormir, todos seus pequenos detalhes
que só ficam evidentes a meia luz e ao som
profundo de sua respiração, ela é uma
estrela nessa escuridão, ilumina meu dia,
brilha sem medo, sonhando ali.
Eu só agradeço por ser espectador
desse fenômeno, por ser eu o escolhido,
o menino, o moleque, o cara que faz
ela rir, e dormir sorrindo desse jeito,
e há quem diga que eu não sou feliz,
naqueles minutos ali parado em silencio
sou o mais feliz da vida.
Fui desastrado, ela acordou, me olhou
com os olhos brilhando, disse com a
voz de sono, enquanto se remexia,
se encaixava novamente nos meus braços,
“vem cá, cuida de mim”.
Eu não hesitei, apertei ela firme em meus braços
pra proteger dos pesadelos, dei um beijo
na sua testa, e me deixei levar pelo sono,
enquanto eu cuidava dela, ela cuidava
de mim, cuidava de me fazer sonhar feliz.






Quando éramos crianças.



Você por acaso lembra quando
nós éramos crianças?
Por que eu me lembro muito bem.
Nós brincávamos o dia todo
na rua de baixo, comíamos
sorvete toda quarta feira,
e íamos para a escola juntos.
Então começaram as férias,
e a sua festa de aniversario,
lembra disso ? você estava
linda de vestido verde, com
sorriso solto na cara.
Eu não tinha muito dinheiro,
então te dei meu coração
em forma de balão, era bonito,
vermelho, você gostava, era
sua cor preferida afinal.
Você brincou com ele o dia
todo, quando já era tarde,
seu amigo te chamou pra
andar de bicicleta, e lá se
foi meu coração, você soltou ele,
sem cerimonia, simplesmente foi.
Chorei com o vazio que ele deixou,
fiquei sentado de baixo da arvore
onde ele estava enroscado.
Ouvi uma voz doce atrás de mim,
uma menina subiu na arvore e o tirou de lá,
“Lindo balão” ela disse, e me entregou,
“vamos brincar ?”
Correndo amarrei ele forte no peito,
para nunca mais voar, botei meu melhor
sorriso e dei as mãos pra menina que ousou
desafiar me fazer feliz, nunca mais te vi.




Beijos Roubados



A primavera havia acabado, e
com ela todos os nossos beijos roubados.
Nosso amor clandestino, que ardia forte
nas noites frias, saudades eu sinto, quando
as luzes se acenderam eu estava só,
e você mendigando amor para algum estranho.
Saudades eu sinto, quem corria de frente pro
trem desgovernado que era teu amor, que
atropelava quem fosse, e dizia que ali era teu
lugar, meu peito no teu peito, anel no teu dedo.
Quantas vidas terei de viver pra aprender
a desviar deste teu olhar, que cega e suga
meus pensamentos pra dentro dele.
A verdade seja dita, nunca me deixei  levar
pra casa nos dias de chuva, chovia como
nos filmes preto e branco, chovia preto,
chovia escuridão no asfalto, chovia
até dentro do teu salto alto.
Acabou a primavera, e aqui solidão
se fez morada, do silencio dos
teu lábios saem sussurros,
de amor? ao pé do ouvido
do doente, do crente da
vida, vida essa que não
segue sem o teu aval,
então vá, e segue,
Adeus, tchau.