A última dança

Ele chegou como um intruso,
invandiu os olhos que me olhavam,
se perderam por um instante e
nunca mais me encontraram novamente,
eu havia sumido, sumido do brilho dos teus olhos.
Enquanto dançávamos sua cabeça
se recostava em meu ombro, como
um consolo pelo grande fim, havia
perdido muito mais do que teus
olhos, perdi meu coração naquela
maldita musica lenta.
Eu contava as notas pra musica
não acabar, mas tua mão não segurava
mais a minha, o violino foi a desafinar,
enquanto teus lábios se uniam junto
a meu ouvido, pra que em um único
sussurrar fizesse a lagrima brotar
e a musica acabar...

“Adeus”




Imagem: Paulo Lemos.

Lágrimas empoeiradas

Minhas lágrimas molharam o rio,
encharcaram as folhas das árvores,
criaram vida neste cinza infinito,
nasceram rosas com espinhos.
O vento bate a velha porta de madeira,
a chuva enferruja o que sobrou
das trancas, minhas memórias
ardem em fogo, me mantem vivo
nesse inverno, nesse frio.
A viola empoeirada se desfez
junto com suas fotos, tudo
virou pó, virou dor,
viraram mais lenha pra
minha lareira.
Nessa ultima cadeira,
nesse ultimo som de vida,
no ultimo bater do coração,
na ultima pagina desse livro
estava escrito...

                Fim.




Imagem : Eduardo Almeida.

Se foi...

Minhas cartas se esparramaram
encima da mesa, voltaram todas
de onde vieram, do meu peito
triste e vazio, onde sequer
sobrou vida para usar de
tinta para novas cartas.
Você me gastou aos poucos,
como se gostasse de ver
um amor morrer, como
se amasse o final dos
filmes tristes.
Maldita seja ela,
malditas sejam suas
palavras a quem juras
amor alem de mim.
Não há mais lagrimas
a se gastar, foi lindo,
foi rápido, foi doloroso,
e se foi...



Imagem : Emila Duarte.

Pai

Neste dia tão triste,
caem rosas sobre seu tumulo,
caem lagrimas de meu rosto,
caem anos dos calendários.
Seus olhos ainda vivem
em meu rosto, suas feridas
ainda doem em meu peito,
sua voz se perdeu como
uma estação de radio
que não existe mais.
Você foi sumindo das
minhas fotografias,
dos meus desenhos de
criança, das minhas
historias, das minhas
lembranças...
Não há um dia que tua
falta não me mata,
que a saudade não bata,
que as lagrimas não caiam,
não há um dia em que
eu não desvaneço...
O que restou de ti eu guardei
em uma caixa e enterrei em minhas
lembranças, para que um dia
descanse em meu peito, como um lindo
 soneto composto por quem não esta mais lá.

Hora de Acordar

Escrevi teu nome em minha pele
como se eu sobesse realmente qual é,
como se lembrasse de um sonho
onde teus lábios me confessaram,  
escrevi teu nome com uma caneta
tão falha quanto o tempo que
falhou em nos encontrar.
Teus retratos são fotos encardidas
de outra vidas, de outras lagrimas
derramadas, de outras feridas,
a vida não quis nos
transformar em nada mais.
No ultimo trem da estação,
no ultimo vagão você sentou
ao meu lado, com seu tênis
preto desamarrado, me encarava
inquieta, só lhe fiz uma pergunta.
Que horas são ?
Com seus labios secos me disse,
é hora de acordar....



Imagem : José Magalhães.

Lobotomia

Me amarram a uma cadeira com tiras,
tiras para suportar a dor do esquecimento,
a mesa de ferro corta a sala, como um
bisturi corta a carne viva e pulsante,
todos de branco como em um velório
ao avesso, como uma despedida,
como se fossemos encontrar a paz.
Nunca pensei que seria assim,
tentei te esquecer de todas as
formas, mas toda vez que
mergulhava nas lembranças
meu peito cedia, minha alma ficava
vazia sem a tua, só me restou
o que estou para fazer.
Só uma martelada e nada
ira restar, tuas lembranças
irão sumir junto com teus lindos
olhos no amanhecer, não terei que
morrer aos poucos de saudade.
Disseram que os poetas são loucos,
uma verdade absoluta, aqueles que
não morrem de amor, enlouquecem
de saudade, assim como eu, um baque,
uma lagrima, uma saudade.



Imagem: Susana Neto.

Desafinando

Nunca mais lhe escrevi, acho que acabaram
minha palavras, minhas promessas,
minhas desculpas por não te amar mais,
acho que simplesmente acabaram com
que restava de você em mim.
Aquele dia onde você disse que me amava,
e tocou aquela musica de repente, foi ali
que eu me apaixonei, talvez não por ti,
mas pelas musicas de amor.
Pena que o disco risca, e o que se repete
é apenas a parte sem teus versos, nem
lembro mais como é sua voz, não lembro
se foi você que me deu este disco.
Como sempre tudo acaba, não escrevo mais
cartas para você porque outros escrevem
melhor que eu, nunca soube compor musicas
lindas de serem ouvidas, sempre o desafinado
que nunca soube tocar uma melodia sequer,
que nunca soube tocar teu coração.



Imagem: Marco Gonçalves.

Silêncio

O teu silencio cala minha alma,
vira um frio sem fim, não sinto
teus braços me tocarem, não
sinto mais paz por aqui, o teu
silencio me calou, calou minha
guitarra desafinada, fez dela
essa maldita ultima lagrima.
Esse cemitério de lagrimas
que se tornou meu semblante,
que vira poesia pros acordes errados,
e quando eu afino as cordas uma
por uma, ela me ama, uma volta,
ela não me ama, outra volta, ela
me ama, uma volta , ela não me
ama, até a corda estourar, até
não haver mais som algum
alem do teu silencio.



Imagem: Flavio Anselmo

Que dure eternamente...

Nos braços dela você descansa depois
de uma vida cansada, depois de dias
tentando aprender a andar sem cair,
tentando aprender a falar para dizer
o  quanto a ama.
As velhas historias de durmir que
ela inventava pra você toda noite,
e os pesadelos que ela soprava pra longe
de você, o nosso eterno medo de
viver que ela insiste em dizer que
é besteira de criança, criancisse.
Toda volta pro seu colo, com o
semblante ao chão, com metade
do coração, com a vontade de
se jogar em outro amor suicida,
vendo ela costurar o que restou
no lugar, e se preprapar para outros mais.
Demora uma vida pra perceber
que as vezes uma vida é pouco
tempo pra poder amar ela
como deveria, para ouvir
todas as suas historias de durmir,
para viver com ela eternamente.



Imagem : Robson Cavalcante.

Doces Sonhos

Costurei minha boca em pensamento para que eu não
gritasse quando você me desse adeus, rezei para que
não me contasse o seu dia, para que teus lábios não
calassem os meus, para que meus ouvidos não se
tornassem apenas pacientes.
Queria que me largasse ali, sem desculpas, sem dar
satisfação, para que me tirasse desse estado de coma
enduzido, para que finalmente eu pudesse dizer o
quanto a amo, e que ainda estou vivo.
Se eu pudesse guarda-la em minhas memórias,
nunca mais deixaria ir embora, não sofreria mais
com a sua ausência, todo dia seria inverno,
tua mão aqueceria a minha, teu coração aritmado
faria nossa canção, finalmente poderia repousar em
teus lábios e durmir ali eternamente.


Imagem: Filipe Correia.

Quando uma lágrima encontra um lar

A luz fraca da rua adormecida pisca, como se também
quisesse repousar sobre o rio que a corta, enquanto o vento
sopra aos ouvidos suas antigas historias de amor, a velha gôndola
navega lentamente sobre as lagrimas das tragédias que
ali morreram, sobre os lençóis amantes.
Todo inverno o rio congela, alguns poetas se arriscam a andar
sobre as águas, os que afundam deixam apenas suas poesias
para trás, os que sobrevivem contam novas historias de amor
para seus filhos,  para que quando crescerem, naveguem por esse
rio ou simplesmente façam parte dele, seja com suas lagrimas,
seja com seus corações.
Na primavera o rio descongela, os novos amores embarcam nas
gôndolas cansadas, e viajam sobre o rio da vida, até parar lentamente
na beira da ponte, é ali que o rio da a volta, onde começa tudo de novo,
onde a luz fica fraca, e o vento começa a soprar...

Do pó as cinzas

Deixa teu mundo pra viver no meu,
vem respirar o ar que você me tomou,
retorna pro meu peito frio, faz dele
tua eterna morada, me deixa viver.
Abdiquei de meus dias pelos meus
sonhos acordados, por te sentir
tocar meus pensamentos, como
sua voz tocava minha alma inquieta.
A goteira da sala derrama lagrimas
em meu rosto, me cego nas noites
frias, afim de não ver o que restou
de mim nos espelhos empoeirados.
Nosso amor esta na quinta prateleira,
atrás dos romances que eu nunca
amei, quando a luz voltar, tentarei
colar as paginas que estão na fogueira,
ou continuarei a virar cinzas...




Imagem: Diego Marcatti

Encontro Marcado

De camisa e calça jeans, a melhor roupa
que encontrou em seu armário bagunçado,
o menino espera sua amada, em uma rua
de luzes amareladas, o céu azul como
o oceano em dias felizes.
De lá da para se ver o relógio da cidade,
que marca dez para meia noite, quase
na hora marcada, quase tempo para
uma felicidade imaginada.
Com a rosa molhada em suas mãos
de tanto suar, ele não agüenta mais
esperar, ensaia suas falas sem parar,
como se tudo fosse um grande teatro,
como se viver não fosse apenas improvisar.
A noite passa em minutos torturantes,
o relógio da cidade se cansou de contar
as horas, a sarjeta lhe consola enquanto
suas lagrimas caem pelos bueiros, ela
não vem, ela não ama rosas, ela não ama
rosas, ela não me ama...



Imagem: José Vaz Meneses

Dia Frio

Só restou um vazio nos meus dias,
um silencio sem fim, o seu piano
na sala de estar virou decoração,
as folhas do calendário ficaram por
todo o chão, viraram dias sem fim.
Não choveram mais razões para
te impedir de ir, comprei uma
blusa pra me proteger desses
dias frios que virão, me aqueci
com o que restava desse amor.
Adormeci em algum canto,
rezando pra não lhe encontrar
em meus sonhos, rezando pra
conseguir me livrar desse encanto
que você me jogou.
Acordei e olhei pela janela,
nossa arvore ainda esta lá viva,
não da mais frutos, nem sequer
novas folhas, mas ainda sobrevive,
como uma lembrança de algo
que foi lindo um dia.


Imagem: Antonio Jorge Nunes.

Histórias para Durmir

A distancia virou a desculpa pra essa inimizade,
vamos voltar a infância que não tivemos,
vamos nos esconder em corpos adultos e
brincar com os sentimentos dos outros.
De tanto usar mascaras seu rosto virou uma,
sempre interpretando a mocinha em apuros,
a donzela a ser resgatada, com sua amiga
ignorante lhe guiando para as profundezas,
e sem cavaleiro para lhe salvar.
Seu castelo um dia irá cair, estará sozinha
com as suas criadas e seu bobo da corte,
enquanto os cavaleiros bêbados em alguma
taverna irão estar rindo da pobre vida que leva.
A sua amiga ignorância lhe abraçara e dirá
para reconstruir o castelo mais uma vez,
até lá os cavaleiros já terão saído da historia,
eles cresceram e não lêem mais historias
que as crianças inventam para durmir.



Imagem: João Moreno.

Ato 1: Amor

Você segurou minha mão e me guiou,
nunca soube exatamente pra onde estava indo,
só segui como um cego em uma noite silenciosa,
nós paramos em algum lugar, e seus lábios
me tocaram, como uma melodia é tocada em
um velho piano.
A luz surgiu de repente, invadiu meus olhos,
não conseguia respirar todo aquele contentamento,
ela sorriu, a luz se apagou, o filme simplesmente
acabou, sem final, sem haver uma fala.
A cena mais linda que poderia ser vista,
mas não era a ultima, a luz volta, ela me olha,
mas agora existem milhares de olhares a minha volta,
milhares de vozes, julgando o amor pelo simples
fato de existir, como se a melancolia fosse o banal,
fosse o certo, como se já não houvesse tanta melancolia
no próprio ato de amar.
Ela se vira e vai embora, desaparece ao dobrar a
esquina, a maldita melancolia escorre de meus
olhos, ela se foi, as ultimas luzes finalmente se
apagam, agora sim é o fim e o começo de uma
história de amor.


Imagem: Manuel Antão.

Páginas Amarelas

Procuro um coração novo para se alugar,
com espaço para 3 amores e uma sala de estar,
um lugar aconchegante, com espaço para
guardar minhas recordações em alguma estante,
que não seja tão caro, que possa ser pago
apenas com amor.
Procuro um com vista para a felicidade,
que não precisa ser perto da cidade,
que seja seguro, que só entre quem
eu quiser que entre.
Gostaria que fosse novo, pois não
consigo mais viver nesse velho,
que esta cheio de buracos de balas,
culpa desses amores roubados.
Gostaria que fosse vermelho e
pulsasse, que ainda encontrasse
paz quando outra pessoa decidir
morar ali também.

Até te esquecer

Na lareira da sala suas palavras queimam,
suas promessas viraram cinzas, suas fotos
vão sumindo lentamente dos porta retratos,
nada mais esta em seu lugar aqui.
Arranquei o eu te amo do meu discurso,
lavei minhas mãos com minhas lagrimas
de dor, quebrei todos os espelhos que
ainda lhe refletiam ao meu lado, apaguei
a ultima vela acesa.
Cultivei durante dias suas rosas de plástico,
li todos os seus livros idiotas, escrevi cartas
para alguma julieta, para alguém que não
fosse você, alguém que não existe.
Pintei todas as paredes de branco, e escrevi
teu nome, até que minha cabeça esquecesse,
esquecesse seu nome, esquecesse seu rosto,
esquecesse você.
As paredes negras como os meus dias,
minhas musicas sem refrão, minha
lareira se apagou, as velas se apagaram,
a rosas de plástico morreram, a musica
acabou, acabou...



Imagem: Maria Alvelino.

Despedida

Eu entrei em um trem qualquer da vida,
e encontrei você, olhando pela janela
com seus lindos olhos perdidos, sentei
ao seu lado enquanto o trem ia pra um
lugar qualquer, e adormeci com o som
de sua voz cantando as suas musicas.
Mais uma estação, entraram mais pessoas,
que discutiam a vida, que nunca andaram
de trem, que nunca se aventuraram,
que nunca partiram pra parte alguma.
A paisagem voava pela janela, como um
quadro de arte abstrata, ela ria da minha
cara de criança, enquanto lia um livro
sobre conflitos amorosos e toda essa
vida confusa de adultos.
O silencio foi deixado para trás em
alguma estação, como parte de minha
bagagem, aqui ela não era mais necessária,
minhas antigas historias de dormir só
trariam mais pesadelos, minhas lagrimas
secas só iriam empoeirar os novos livros
que carrego na mochila.
O trem parou, me falaram que aqui é
o ponto final, ela não se levantou, me
disse que era a minha ultima estação,
mas não a dela, iria continuar a viajar
até me encontrar de novo, peguei minha
nova bagagem, olhei mais uma vez para
seus lindos olhos, e parti, me despedi
da minha mais linda historia de amor,
com novas lagrimas em meu olhar.
Me sentei na estação, e jurei esperar,
até o trem passar novamente, até
eu poder respirar seu doce perfume
mais uma vez, até um dia qualquer,
até ela voltar, voltar com meus dias,
voltar com seu sorriso, até voltar por mim.



Imagem: Jorge Casais.

Sua Canção

As palavras cairam da cabeceira da sua cama,
se esparramaram sobre o chão frio, viraram versos,
poças de versos, viraram musica pra quem escorrega
ali sem querer, viraram meus dias secando esse seu
brilhantismo incosciente.
Me deixa sonhar, me deixa voar no cantarolar
de suas musicas, me afasta do pesadelo,
me traz a luz nos dias nublados, me ensina a viver.
Vou esperar minha canção tocar teu coração,
vou esperar o dia morrer na sua janela, vou
esperar o tempo passar, vou esperar você
estar ao meu lado, para nunca mais ter que esperar.
Vou esperar a minha canção virar nossa canção,
vou esperar até que vire sua canção,
e assim se eternizar.



Imagem : Jil Norberto

Eu Me Perdi

Eu me perdi no caminho de volta pra casa,
eu me perdi de você, não achava mais seu
rosto em meio a multidão, fui jogado fora
como um brinquedo velho de criança, desapegado
de sentimentos, como uma mala na estação
onde ninguém volta pra pegar.
O conto feliz só diz que ela foi feliz, não
diz com quem, nem quem ela deixou pra trás,
não diz quantos corações partidos é preciso
pisar pra achar essa tal felicidade inalcançável,
na verdade o conto não diz nada, só mostra
uma menina sorrindo sozinha.
O som dos violinos quebrados foi tudo que
me restou, virou minha canção, virou a cicatriz
que trago no peito, virou silencio sem você por aqui,
virou meu hino de solidão.
Eu me perdi no caminho...

de volta pro seu coração, eu me perdi.


Imagem: Mário Rosado

Como Se Fosse um Filme B...

O filme de repente é em preto e branco , não
importa o que eles falam mais , deve ser cinema
mudo , deveria ser pelo menos , mas o filme passa
e a trilha sonora são aquelas musicas que te dizem
como os amores impossíveis que são os que realmente
tem graça , que realmente o Shakespare era o único
ser consciente sobre o amor . Romeu & Julieta ,
o amor impossível , e o trágico fim , que é o que realmente
acontece no fim de amores impossíveis , todo mundo
se ferra , todo mundo se machuca.
Shakespare escreveu todas as historias de amor em uma,
foi o único que transmitiu , que tudo que é impossível
é que nos atrai , tudo que é proibido nos instiga.
Não nasci pra viver um amor impossível , mas para
assistir de camarote todos esses acontecerem, olho para
tela e os créditos voam , assim como o tempo sentado
naquela poltrona vermelha cor de sangue .
Vou embora , não assisti nem um segundo do filme ,
não quis ver , talvez a vida aquele dia teria feito algum
sentido se eu tivesse visto , uma menina me chama
atenção na fila para comprar o ingresso.
Me apresento e seus olhos brilham , lhe conto parte do
filme que consegui me lembrar , tudo soa como musica
aos ouvidos juvenis da menina inocente , quando estamos
quase entrando , lhe barram na porta , o filme é só para
maiores , e ela com seus 15 e tantos fica de fora.
Eu entro e assisto sozinho de novo tudo isso ? eu saio
e assisto um filme que não seja de amor com ela ?
Será que se eu for lá fora e a amar , mentir pra mim
mesmo , será um amor impossível ?
Sozinha lá fora a menina mulher chora , eu a abraço ,
olho os carros passarem na rua , me pergunto sera que fiz
a escolha certa ? aonde estão as câmeras ? a qual filme eu
pertenço agora ?


Just It

Me perguntaram de mim, eu respondi você.

Me perguntaram para o que eu via quando olhava alem do horizonte,
Respondi que eram teus olhos, me perguntaram pra onde o vento
soprava antes da tempestade, respondi que sopravam teus pesadelos
para longe, me perguntaram sobre o silencio, me perguntaram se
ele existia de verdade, respondi que o único silencio que existe é
quando seus lábios se calam.
Me perguntaram dos meus dias, respondi que são anos sem você,
me perguntaram das rosas, eu respondi que eram cinzas sem você,
me disseram então que você se perdeu, eu fui lhe buscar, disseram
que teus olhos de medo esfriaram a noite, que construiu um labirinto
a sua volta pra ninguém a achar, eu aprendi a passar por labirintos,
disseram que se trancou numa torre, mas eu não sou um cavaleiro
em um cavalo branco.
Me disseram que isso era um conto de fadas, eu disse que
acredito em finais felizes, então acabou o assunto, finalmente
me perguntaram de mim, eu respondi você.


Just It.

Imagem: Hilton Pozza

We found love in a hopeless place

A tempestade cai sobre seus olhos, molha teu coração,
seu sorriso ainda mora na minha memória,
em todas as canções que compus pra você
na minha imaginação, e em todos os versos
apaixonados que nunca escrevi, em todo
novo amanhecer de meus dias.
Como se pode sentir falta de algo que nunca
lhe pertenceu ? o amor não deveria ser
simples ? a vida não deveria ser simples ?
Acho que somos nós mesmos que complicamos,
que brigamos contra o mundo por besteiras,
e que não ligamos para coisas importantes.
Parece que o amor morreu em alguns corações,
que não existem mais casais felizes pelas ruas
da vida, parece que tudo mudou por aqui,
agora faz frio de verdade na cidade, que
apagaram as velas que iluminavam esse
caminho, que acharam motivos melhores
pra viver sozinho.
Como o amor ainda existe em lugares
como este ? pergunte pro meu coração.

Just It.


Imagem: Filipe Correa

Ela só quer dançar.

Dançava a menina, dançava com seus fones de ouvido,
e suas meias coloridas, Elvis Presley era o que ouvia,
enquanto o mundo lá fora caia, desmoronava.
Se escondia do sol, como se tivesse vergonha de
ser radiante sob ele, se aventurava em historias
que seus livros lhe contavam, sonhava com um
futuro feliz, um felizes para sempre.
Seus olhos de menina inocente, olhavam o mundo
como se fosse um lugar bom, como se não tivesse
maldade lá fora, como se só tivesse ela no mundo.
Era uma princesa em outra vida, com seu castelo,
com seu reinado, com seus cavalos brancos,
com seus cavaleiros, com sua coroa.
Com seu jeito de ser encantava quem a via passar,
cantava suas musicas preferidas pra quem
quisesse escutar, e dançava, dançava e
continuava a dançar.

Just It.

Noites de Tormenta

Se teu nome não fosse uma melodia,
se tuas palavras não calassem a noite,
o vento da janela seria apenas uma brisa,
não essa tormenta avassaladora,
não me perguntariam toda noite aonde
fui parar , saberiam que estou entorpecido
dentro de teus versos involuntários soprados
de tua boca.
A noite que segue se perde no seu olhar,
procura as respostas das perguntas escritas
nos diários de adolescentes, eles se perderam
nos próprios caminhos como amigos, como
ser quem são.
Quem é a culpada por todo esse pandemônio
emocional , ela que parece nem ligar para
vida a ter feito como ela é , que brinca de fazer
cicatrizes como fossem tatuagens no peito
dos outros, quem foi que disse que ela
precisa de alguém pra ser feliz.
Do mesmo jeito que já foi um dia,
as lagrimas escorrem pelas avenidas,
de novo você sofre em silencio,
enquanto as risadas pairam a sua frente,
se ao menos lhe coubesse coragem pra amar
e declarar, talvez a vida sorrisse de volta.



Just It.

Nós costumávamos ser amigos.

Ele usava seu moletom preto de sempre, os fones
de ouvido e all star preto, sua casa nunca foi um lar,
seus amigos eram as garrafas vazias pra quem
contava seus sonhos e suas decepções, a calçada
era seu sofá, e suas noites eram dias inteiros.
Não era sozinho por que queria, era porque o tempo
lhe fez assim, ensinaram ele a se proteger dos
que lhe ofereciam sorrisos por um pouco de sua alma.
As risadas dentro das casas por onde passava
nunca superavam os acordes repetitivos que
vinham de seus fones, não tinha nenhuma foto
sua, não tinha motivo pra lembrar daquela
época, lembranças são apenas momentos
que não conseguimos esquecer, era o que dizia.
Aos sábados era enjaulado em seu quarto,
com grades nas janelas, a briga de seus pais
no outro quarto nunca foi problema, se acostumou
a ser assim, não ligar mais, eles diziam que
aquilo tudo era adolescência, não tinha nada
a ver com eles não saberem dar valor a alguém,
nada a ver com abrir a porta do quarto de
manhã pra ver se ele estava vivo pelo menos.
O estranho é saber que nós costumávamos
ser amigos, e que ele continua fazer parte de você,
mesmo você não sabendo como.


Just It.


Imagem: Joao Santos

While My Guitar Gently Weeps

Os dias morrem sobre a sua janela, você sempre
se importou demais com os outros, e eles nunca
te entenderam de verdade, seus gritos de socorro
explodem pelos amplificadores, as paredes arranhadas
do seu quarto te prendem ali.
As vozes dos seus amigos na radio são apenas eco de
uma outra época, de um tempo feliz, de um tempo
de amigos, a solidão é a única musica que toca
no radio agora.
É estranho ver que quem nem te conhecia direito
é quem te segura pra não cair, ver que um comentário
te faz continuar a escrever, ver nos estranhos os
amigos de verdade.
Fotos de um passado que não existiu com você, te
cortam os pulsos, criam repulsos de raiva, vivem
lhe incomodando, talvez não fosse pra ser assim
mesmo, o passado já foi, não há como voltar atrás.
Desligo o radio e vou durmir, espero não ter mais
pesadelos, espero estar em paz agora, mas mesmo
assim consigo ouvir minha guitarra chorar pelas
paredes.


Just It.

Imagem: Giordana Pezzini

O Amor é Importante , Porra !

Se essas bocas calassem, se esse dia finalmente
terminasse sem mais lágrimas, sem mais sangue
derramado sobre o chão, talvez brotasse esperança
nesse campo infértil que insisto chamar de coração.
Na vendinha de esquina, amor em promoção,
sem apego, sem emoção, amor em promoção,
na sacola trago apenas melancolia e saudade,
que estavam em falta nessa loja de falsas emoções.
No fundo dos copos de uísque a lucidez insana
de um amor comprado com moedas de chocolate,
de uma desilusão, do ultimo gole de vida, do
teu sorriso falso no fim da noite.
O mundo não nos pertence mais, nunca nos pertenceu,
nunca houve nós nesse mundo, nunca houve um mundo
entre nós, nunca chegaram minhas cartas de amor
ao teu coração, nunca me declarei olhando teu semblante,
nunca houve você nesse amor, nunca houve amor em você.
Engane outro coração enganado, das sua promessas
sem valor faça delas lição de vida, carregue outro
incapaz nas costas, aprenda a não comprar amor em
qualquer esquina, não se afogue em lagrimas,
não escreva cartas de amor, se deixe ser amada,
permita que bebam de sua alma, viva mesmo
sem saber como viver.

Just It.

Hora do Show

Um suspiro , uma ultima respiração profunda,
e em dois passos você esta em cima daquele tapete,
desenrolando sua correia , tirando seu instrumento
do suporte , então você olha pra frente , vários rostos
te olhando , pais orgulhosos , amigos apoiadores.
Os baques da baqueta estouram atrás de você ,
e você toca , sente a música , o nervosismo se perde
no meio de tantas notas , seus professores lhe olham
de forma positiva , e tudo correrá bem.
Seus olhos procuram na multidão , no escuro , e você
vê as cadeiras vazias , bem ali , no lugar onde deveriam
estar as pessoas que você tanto gosta , mas não se abale,
toque mais alto , toque mais alto possível , pra que consigam
ouvir da onde estiverem.
Você se entrega a um acorde qualquer , a felicidade morava
em algumas daquelas notas , pois seu sorriso , sua vontade,
sua entrega , fica explicita em todos os compassos.
Você é livre naqueles minutos , você era aquele que assistia
na platéia e dizia “quero tocar assim um dia” , hoje você é
quem você queria ser , você é quem você é. E nesse Compasso
Quartenário eu sou a Musica inteira.

Just It.

Mesmo Sendo Outono

O frio brota do chão , como as flores mortas ,
no nosso cemitério de amores particular ,
venho limpar a lápede do nosso amor , tirando
todas as flores que caem sobre ele , é irônico
como eu cuido disso , como eu ainda me importo
de deixar esse caixão de lembranças enterrado
fundo na minha mente.
Talvez o outono seja apenas o ultimo suspiro ,
antes de se jogar no penhasco do amor , é o
tempo de se aventurar , acho que é porisso
que é sempre outono quando eu venho aqui,
seja para enterrar de vez um amor , ou se
despedir de um antigo , é sempre tempo
para continuar , para recomeçar.
Engraçado que no ultimo epitáfio estava
escrito , “que dure enquanto o Outono existir”,
parece que aquele epitáfio vai durar para
sempre então , mas aquele amor não.
Talvez ainda exista algum amor que
sobreviva ao Outono , um amor que
se reinvente a cada outono , que se
torne mais do que uma simples estação,
que seja amor de verdade , mesmo sendo outono.

Just It.

Story Of My Life

O menino abre o livro , então a história começa ,
a historia invade seu quarto escuro , se torna a luz
na madrugada fria , a garota insegura aprisionada
entre as paginas espera o mocinho a salvar.
Então ali se vai alguns capitulos , o vilão esteriotipado
faz tudo acontecer com suas frases cliches , e o amor
do mocinho ultrapassa as palavras do Prefacio ate
a biografia do autor .
Então , se chega ao clímax da historia , o mocinho
morre ao tentar salvar sua amada , e a menina
indefesa se mata no mesmo gesto para viver eternamente
com aquele amor avassalador .
No Fim , se descobre que tudo foi um sonho do
mocinho , que dormia tranquilo na sua cama ,
numa sexta feira , a amada a ser salva não existe,
e o vilão , o vilão era só o mocinho de mal humor.

THE END.

Nem sempre se vê lagrimas no escuro.

A noite cai , a escuridão surge
como no fechar dos olhos de insônia,
a água que arrepia a pele , desce
por entre as curvas de seu rosto,
e tocam pela milésima vez o
travesseiro encharcado.
Ele simplesmente não se conforma,
como o mundo pode o sabotar de novo,
ele não entendia mais , como ele
não poderia ter uma noite de paz ,
uma noite para observar as estrelas.
Ele grita o nome dela as estrelas , e sabe
que em algum lugar nessa noite , ela
pode o escutar claramente , mas ele
não a pode toca la , não pode dizer
as tragédias do mundo ao seu ouvido.
Se fecha a janela , se joga ao chão o coração,
quando ele encontrara seu caminho
para casa ? quando ela encontrara o
coração dele ? quando o mundo deixar.
Lá fora o fogo toca o céu , a noite vira dia
por alguns instantes , faça um pedido e
agora assopre , tudo volta ao negro habitual ,
o que se deve fazer para ter um desejo
realizado por aqui ? temo que seja apenas
rezar , e esperar , torcer por um milagre.
Sozinho em seu refugio , ele sorri ao céu ,
da sua janela velha , ele espera toda noite
pela a estrela brilhar novamente.


Milagres acontecem para quem acredita neles.



Just It.

Só o tempo que vai nos dizer...

Há quanto tempo não nos vemos, faz tanto frio,
fazem meses, e tudo que me sobrou foram
horas solitárias, foram palavras jogadas ao vento
que com o tempo se desfazem como papel
na água, foi apenas um tempo.
Por que o tempo não voa pra longe, pra longe
de nós, pra longe de mim, pra longe desses dias
felizes, pra longe dessa tragédia comum que
virou nossos dias.
O tempo virou nosso inimigo, o mal que temos
que suportar todos os dias, odeio esperar pela
sua vinda, pelos seus sorrisos, pela hora de nos
falarmos, maldito tempo.
A noite só piora tudo, faz desses minutos horas
intermináveis, faz da sala sua morada, e do
relógio na parede seu brinquedo com os corações
dos que amam.
O tempo nunca mais voou por aqui, ele aprendeu
a repousar nos corações dos que são amados,
e viver ali eternamente.


Just It.

Imagem: Vasco Melo.