Nossas Brigas.


- Desculpa ! eu te amo !
ela nem se deu ao trabalho de olhar para tras,
como sempre eu tinha começado a briga,
e eu não sei como mas, ela conseguia por a culpa
em mim, e eu acabava aceitando, não por
simplesmente acabar com a discussão, mas por
que ela realmente tinha razão.
Dizer “discutimos” é muito mais bonito,
menos agressivo sabe ? do que dizer “brigar”,
mas muitas vezes ela me dava uns tapas
em meio aos berros e revoltas alheias,
então eu digo “brigamos”, sem olhos
roxos, sem arranhões, mas totalmente
machucados, da forma mais dura da palavra.
Eu corri de novo na direção dela,
agarrei seu braço de forma suave,
e ela se desvencilhou dele, e me
mostrou o dedo do meio, você pode
achar que a briga ainda estava acontecendo,
mas acredite em mim, aquilo era o começo
da pequena trégua, ela baixou a guarda.
Puxei ela rapidamente pra mim, desviou o olhar,
mas eu fiquei ali parado, segurando ela de frente,
ela me olhou nos olhos, aqui nesse ponto lê se
“perdão” dentro dos meus olhos, ela limpou
com a mão as duas ultimas lagrimas de seu rosto,
e disse em alto em bom som, a ponto de me envergonhar,
“EU QUERO SORVETE, AGORA !” – fim da discussão.



Imagem : Jorge Coimbra.

Amores Perdidos.


Ela acordou mais cedo naquela manhã de Janeiro,
decidiu fazer torradas para o café da manhã,
de meias, calcinha e uma camiseta de banda de rock
esbanjava sensualidade pra si mesma, já que morava sozinha
e não era do tipo que dormia com todos os caras do mundo.
As torradas queimaram de novo, esqueci de mencionar
que ela é desastrada também, ligou o chuveiro e o radio
na pia, não se importava em causar um curto circuito,
apenas queria ouvir suas musicas no banho, era sua terapia,
já semi seca e vestida, correu e pegou uma torrada só,
como sempre em tudo na sua vida, ela estava atrasada.
Era uma manhã qualquer, como todos os dias, ônibus lotado,
e mente vazia, só o som do Foo Fighters em seus ouvidos,
ao descer do ônibus tropeçou e quase caiu de cara no chão,
tênis desamarrado, “que burra !” ela fala pra ela mesma,
sim, ela usava tênis, nunca usou salto alto, nem sandália,
melissa, bota, NÃO, - só tênis, muito obrigado.
Finalmente chegou no serviço, era bibliotecária, passava
o dia com os maiores amores de sua vida, os livros,
mas naquele dia algo estava diferente, talvez fosse apenas
a desorganização mortal da menina da tarde, que deixava
tudo pra ela fazer, todos os livros deveriam voltar pra prateleira
de manhã, como se fosse um truque de magica, “Vaca” pensou.
Enquanto colocava tudo em seu devido lugar, achou uma
folha amarelada dentro de uma capa, era uma carta, com aqueles
selos antigos, de cera vermelha, com símbolos, era endereçada
para Julieta, “Maldita Julieta, sujando meus livros” disse alto demais.
Jogou a carta no lixo preto atrás do balcão, e lá foi continuar
sua procrastinação com seus amores nas mãos, ela esbarrou na
minha cadeira ao passar, “Mil desculpas, não te vi” me disse,
quando colocou Romeu e Julieta na prateleira, parou e pensou,
voltou correndo para o lixo, mas não havia mais nada lá.
É uma pena ela nunca saber que era ela a tal da Julieta.




Imagem: Manuel Passos.

Férias pro Coração.


As faixas da estrada pareciam
uma única linha branca pintada
por uma criança de 5 anos,
o vento voava pela janela,
entrava por um lado, pairava
alguns segundos sobre minha
cabeça e depois fugia do outro lado.
Hoje era um dia comum,
mais um dentre tantos,
mas eu simplesmente resolvi esquecer,
esquecer que você estava a menos
de 10 Km de onde eu estava,
e que eu simplesmente te amava.
Parei perto de uma cachoeira,
eu costumava vir aqui antes de
te conhecer, era aqui que
onde eu finalmente podia
respirar, depois de meses de
falsas paixões, de amizades
amarelas, depois desse seu silencio.
Fiquei ali sonhando, até minhas
pernas doerem, no caminho de
volta, fugi de todas as placas
que me levavam pra você,
- só por hoje – falo baixinho
pra mim mesmo, pra me
convencer.



Imagem : Fábio Saar.

Eterno Segundo Novo.


Lá estava ela, toda de branco,
toda arrepiada por causa
daquele vento fresco,
ela me puxou pela mão, e eu fui,
me choquei contra a pequena
onda da praia silenciosa,
era como se ela tivesse criado
um mundo novo só para nós,
um mundo com contagem
regressiva pra acabar, até
podia ouvir algumas vozes
gritando dez, nove, oito...
Na paisagem perfeita surgiam
pinceladas coloridas, que
se expandiam sobre o céu,
e caiam devagar até tocar
o mar, se duplicando e se
desfazendo na água.
Ela segurou minha cintura
e me puxou pra perto,
não, eu não a beijei,
só mergulhei em seu cheiro,
tudo durou eternos segundos,
de um eterno ano novo.