Desafinando



Nunca mais lhe escrevi, acho que acabaram
minha palavras, minhas promessas,
minhas desculpas por não te amar mais,
acho que simplesmente acabaram com
que restava de você em mim.
Aquele dia onde você disse que me amava,
e tocou aquela musica de repente, foi ali
que eu me apaixonei, talvez não por ti,
mas pelas musicas de amor.
Pena que o disco risca, e o que se repete
é apenas a parte sem teus versos, nem
lembro mais como é sua voz, não lembro
se foi você que me deu este disco.
Como sempre tudo acaba, não escrevo mais
cartas para você porque outros escrevem
melhor que eu, nunca soube compor musicas
lindas de serem ouvidas, sempre o desafinado
que nunca soube tocar uma melodia sequer,
que nunca soube tocar teu coração.



Imagem: Marco Gonçalves.

Silêncio



O teu silencio cala minha alma,
vira um frio sem fim, não sinto
teus braços me tocarem, não
sinto mais paz por aqui, o teu
silencio me calou, calou minha
guitarra desafinada, fez dela
essa maldita ultima lagrima.
Esse cemitério de lagrimas
que se tornou meu semblante,
que vira poesia pros acordes errados,
e quando eu afino as cordas uma
por uma, ela me ama, uma volta,
ela não me ama, outra volta, ela
me ama, uma volta , ela não me
ama, até a corda estourar, até
não haver mais som algum
alem do teu silencio.



Imagem: Flavio Anselmo

Que dure eternamente...



Nos braços dela você descansa depois
de uma vida cansada, depois de dias
tentando aprender a andar sem cair,
tentando aprender a falar para dizer
o  quanto a ama.
As velhas historias de durmir que
ela inventava pra você toda noite,
e os pesadelos que ela soprava pra longe
de você, o nosso eterno medo de
viver que ela insiste em dizer que
é besteira de criança, criancisse.
Toda volta pro seu colo, com o
semblante ao chão, com metade
do coração, com a vontade de
se jogar em outro amor suicida,
vendo ela costurar o que restou
no lugar, e se preprapar para outros mais.
Demora uma vida pra perceber
que as vezes uma vida é pouco
tempo pra poder amar ela
como deveria, para ouvir
todas as suas historias de durmir,
para viver com ela eternamente.



Imagem : Robson Cavalcante.

Doces Sonhos



Costurei minha boca em pensamento para que eu não
gritasse quando você me desse adeus, rezei para que
não me contasse o seu dia, para que teus lábios não
calassem os meus, para que meus ouvidos não se
tornassem apenas pacientes.
Queria que me largasse ali, sem desculpas, sem dar
satisfação, para que me tirasse desse estado de coma
enduzido, para que finalmente eu pudesse dizer o
quanto a amo, e que ainda estou vivo.
Se eu pudesse guarda-la em minhas memórias,
nunca mais deixaria ir embora, não sofreria mais
com a sua ausência, todo dia seria inverno,
tua mão aqueceria a minha, teu coração aritmado
faria nossa canção, finalmente poderia repousar em
teus lábios e durmir ali eternamente.


Imagem: Filipe Correia.

Quando uma lágrima encontra um lar


A luz fraca da rua adormecida pisca, como se também

quisesse repousar sobre o rio que a corta, enquanto o vento
sopra aos ouvidos suas antigas historias de amor, a velha gôndola
navega lentamente sobre as lagrimas das tragédias que
ali morreram, sobre os lençóis amantes.
Todo inverno o rio congela, alguns poetas se arriscam a andar
sobre as águas, os que afundam deixam apenas suas poesias
para trás, os que sobrevivem contam novas historias de amor
para seus filhos,  para que quando crescerem, naveguem por esse
rio ou simplesmente façam parte dele, seja com suas lagrimas,
seja com seus corações.
Na primavera o rio descongela, os novos amores embarcam nas
gôndolas cansadas, e viajam sobre o rio da vida, até parar lentamente
na beira da ponte, é ali que o rio da a volta, onde começa tudo de novo,
onde a luz fica fraca, e o vento começa a soprar...