Cartas de Natal


Era a quarta vez que eu tentava
lhe escrever naquela manhã de natal,
ficava rabiscando o papel procurando
algum motivo para fazer aquilo, afinal,
você nunca iria ler esta carta.
Eu queria poder ler ela pra você,
poder deixar escapar um
euteamo no fim de alguma frase,
e ver meu coração caindo
lentamente, como uma pena
dançando no ar, até chegar
sobre seus pés e ali se desfazer.
Mas tudo isso era aquela parte
do “e se”, a incerteza vivia
colada na minha testa e
agora eu já estava acostumando
com a presença dela.
Peguei o presente que você
me deu de natal, e coloquei
pra ouvir a faixa 6, me perdi
naquela parte onde ele diz
que não existe nenhuma
canção sem o amor,
pelo jeito, eu não existo
sem isso também.

Noites Frias



Subi no telhado do meu prédio hoje,
o porteiro deixa trancado,
ele odeia me emprestar a chave,
deve pensar que eu vou me jogar
lá de cima , ou qualquer coisa do tipo.
Há exatas duas semanas eu fiz uma cópia
dessa chave, e tornei este ambiente
como o meu lugar de paz, onde
as vozes dos meus problemas não
conseguem subir.
No meu bolso um maço de cigarro,
velho... amassado, não sou muito
de fumar, mas me ajuda a esquecer
que tenho que respirar pra viver.
Odeio essas noite frias de fim de ano,
elas me lembram você, era você que
gostava de usar minha jaqueta no frio,
dizia que de natal só queria um abraço
quente, e me obrigava a parar em
frente a todas as casas iluminadas
por aquelas luzinhas coloridas.
Meu cigarro se espatifou na rua
lá embaixo, eu realmente odeio
essas noites frias, acho que eu
não tranquei direito a porta,
meus problemas chegaram novamente.




Imagem : Emanuel Priolli

Espelho Quebrado




Tem gente que diz que um espelho quebrado
da alguns anos de azar, não culpo esse
pedaço de vidro pelo azar da minha vida,
mas o fato é que espatifado sobre meus
pés estou eu mesmo.
Não é apenas lixo, são pequenos reflexos
de mim mesmo, sorrisos, tristezas,
lágrimas, dor, amor, paixão,
pequenos fragmentos solitários
da minha vida.
Estou quebrado, não há conserto,
não há emenda, sou apenas
restos, restos de amores
mal resolvidos, de gripes
mal curadas, de noites acordadas.
Sou apenas um espelho, que espatifo e dou azar,
a quem não sabe como me segurar

O Chão Que Ela Pisa


Mal conseguia abrir meus olhos,
o dia estava queimando meu rosto,
na minha camiseta branca tinha
uma mancha enorme, culpa do
meu descuido de bêbado com
uma garrafa em minhas mãos.
Vi uns sapatos na altura da minha cara,
se ela escorregasse eu teria levado
o chute da minha vida, mas lá
estava o par de pernas mais lindo
que uma ressaca podia proporcionar.
Estava enjoado, não conseguia
mover minha cabeça além do nível
da cintura dela, ela riu, estava se divertindo
com a minha tentativa de resistir,
de tentar olhar para ela por mais um instante.
Só consegui dizer duas palavras
antes de adormecer no chão gelado,
“Lindos Sapatos”.




Imagem : Paulo Marques.

Uma Chamada Perdida


O telefone tocava incessante,
era o passado tentando levar
o que restou, levar meus
últimos segundos de folego
antes da insanidade evidente.
Atendi e houve só silencio,
as lagrimas caiam naquela
escuridão sem palavras,
não havia nada a ser dito,
só senti que cai ao chão
quando o silencio se quebrou,
era o bipe seco do telefone.

Dezembro


Ela pegou suavemente na minha mão,
foi algo natural, quase surreal,
logo deu uma volta em torno de si mesma
segurando a ponta dos meus dedos,
como se tivesse dançando só pra mim,
uma bailarina particular, realmente
naqueles poucos segundos só havia ela.
A porta da sala estava aberta,
ninguém se importou em fechar,
não havia pra que esconder
nossa felicidade, era uma linda
noite calma de dezembro,
ela recostou a cabeça em
 meu ombro, e se encaixou
debaixo dos meus braços.
Ela se levantou e foi até a janela,
a luz da rua brilhava atrás dela,
era a mais linda de todas,
eu sabia, ela iria acabar com
meu coração, mas não podia resistir.





Imagem : Fabricio Panchone.

Viver (morrer) de amor


Existem milhares de formas de morrer,
mas acho que a mais dolorosa
deve ser pelo amor, amar nos mata,
é algo tão involuntário como respirar,
quando menos espera esta amando,
e também esta sofrendo.
Naquela manhã acordei sem teu cheiro,
havia adormecido na cozinha, encima
da mesa agarrado com a tua carta,
agarrado com o que sobrou de você.
A geladeira estava vazia a dias,
e o calendário parado no dia 12,
todo dia era o maldito dia 12,
por mais que eu me esforçasse
suas palavras não mudavam
na carta, nem uma virgula.
As flores que eu te dei morreram
na janela, de coração partido,
 barriga vazia, e olhos cheios,
 cheios de lembranças, tão cheios
 que transbordam pelo meu rosto,
maldito amor, maldita dor,
é o preço que se paga por amar,
por viver.





Imagem: Jil Norberto.

Paris


Nós não pertencíamos
um ao outro, nunca
foram ditas palavras
tão sinceras, ela era
de um mundo maior,
que o meu pequeno
coração adolescente
não suportaria.
Eu imaginava nossas
viagens pelo mundo
enquanto voltada
para casa, da janela
do ônibus podia ver
Paris, podia ver seu
rosto iluminado pelas
luzes amarelas da rua,
podia ver ela tocando
piano em nossa sala de estar,
podia ver uma vida inteira.
Não houve brigas,
nem lagrimas,
como seus lindos lábios
me disseram um dia,
 nós não nos pertencíamos.





Imagem : Marcos Costa.

Auto Retrato


Ela pensou em ser bióloga,
amava a natureza e o ar
seco desses dias ensolarados,
sonhava em ter uma filha,
em viajar o mundo ou
simplesmente ser feliz.
No seu décimo quinto aniversário
ganhou uma pequena
maquina fotográfica,
antiga, de filme ou
como ela gostava
de dizer “uma maquina
com personalidade”.
Se apaixonou por
tudo que a sua lente
capturou a partir daí,
todos os risos, as lágrimas,
os invernos, os corações
partidos pelas esquinas.
Em um desses invernos
eu fui a uma exposição,
se chamava Sonhadores,
parei extasiado em frente
a quarta foto,  se intitulava
“Auto Retrato”.



Imagem : Jennypher Santiago.

Estrelas


Era uma noite melancólica para mim,
não havia vento, nem chuva,
parecia que até as nuvens tinham
companhia para aquela noite.
Uma menina do outro lado do
parque esta sentada como eu,
em um desses bancos velhos de madeira,
não sei quem foi que inventou
que essas coisas são confortáveis.
Eu fiquei olhando pra ela,
mas ela só tinha olhos para o céu,
depois de muito tempo decidi
matar minha curiosidade.
Só quando cheguei perto pude ver,
ela também estava triste,
deve ser efeito colateral dessa noite,
ela olhou nos meus olhos por um instante
e voltou a se entreter com o céu.
- São lindas, não são ?
- O que ?
- As estrelas... elas se parecem
 tanto conosco.
- Por que ?
- Por que elas são cicatrizes no céu.



Imagem : Licínia Machado.

Minha lente embaçada


O vento batia no rosto,
não estávamos muito rápidos,
era o mundo que girava devagar,
nesse balanço minha mão
firmava no volante, na tentativa
inútil de manter o controle.
O som da rua agora era
 nossa rádio particular,
 não sei por que insisto em olhar,
em pecar meus olhos com
essa beleza natural.
Tão linda quanto a rosa
que morreu pra fazer seu cheiro,
era simples, era ela, era a noite.
Estava envolto com um filtro,
como uma velha câmera analógica,
meus olhos clamavam mais,
mas tudo se embaçava a minha frente,
deve ser essa coisa que chamam
por aí de felicidade.




Imagem : Gonçalo Ramos.

Um café, por favor.


Era uma sexta feira e chovia bastante,
um daqueles dias onde todos se escondem
em suas casas com medo do frio e da solidão.
Eu costumava me conformar com a vida,
estar só não era desculpa pra não viver,
resolvi tomar um café aquela noite,
coisa que nunca faço, odeio café,
mas era o único lugar aberto onde
eu poderia escrever meus poemas em
um pedaço qualquer de guardanapo.
Logo que me posto junto a mesa vejo ela,
aos olhos despreparados seria só mais uma,
mas quando a vi eu sabia que era ela,
era pra ela todos esses poemas bobos,
todo esse falso romantismo que eu me empunha,
todas as noites em claro, minhas paginas de
fichário rasgado contavam a nossa historia.
Ouvi sua voz de longe, “um café , por favor”
já me contentaria com menos que isso,
ela sorriu para mim e se foi, abriu a porta
e partiu, sem guarda chuva, sem preocupação,
era feliz com a chuva lavando sua alma.
Desde então toda sexta que chove eu
me posto junto a mesa e peço um café,
abro minha blusa e retiro do bolso este
guardanapo, sorrio sozinho para rua,
eu ainda me lembro por que escrevo poemas.


Imagem : José Rocha.

Andando na chuva


Chovia lá fora, eu resolvi sair para andar...
sem guarda chuva, sem casaco, sem nada que me protegesse,
vejo uma silhueta ao fundo, sobretudo preto, botas, mulher, linda de se ver.
Bate os olhos nos meus, o baque quase me derruba,
não eram suas curvas que importavam mais,
aquele batom vermelho em sua boca...
como se tivessem pintado à mão e sob medida aquela boca.
Só queria  que seu guarda chuva quebrasse,
que a água finalmente lavasse seu rosto,
 queria a despir dessa máscara, enxergar dentro desses olhos que me cegam.
Depois de um momento ela continua sua caminhada,
só um momento, foi isso que durou, alguns meros segundos,
olho pra trás por reflexo, não para olhar para seu corpo,
vejo sua mão que não segura o guarda chuva balançar enquanto
anda, um anel, brilha dourado sob a luz fraca do poste da rua.
Espero que quem a tenha dado este anel consiga enxerga a beleza
por trás daqueles olhos, negros como a noite fica quando ela
se afasta e dobra a esquina.



Imagem : Vitor Nunes.

A Morte de Julieta




A lua iluminava a rua de pedra,
era o caminho torturante do meu coração,
todas as noites me perdia ali,
 como um boêmio que encontrava a taverna,
 um louco com seu vício inconsciente.

E lá estava ela, tua amada,
 a perfeição havia se consolidado
 em carne e osso, dos olhos inocentes e pele macia.

Mas lá estava tambem Pàris,
 traindo os labios que me pertenciam,
 tocando a pele arrepiada de frio,
 consumindo todo o perfume até que
 nao se sentisse mais aquele toque seco do meu.

Não sei ao certo se foram lágrimas
 ou ódio que escorreram de meu rosto,
 havia abdicado de uma vida de paixões
desenfreadas pelo meu grande amor,
 que agora nem uma paixão era.

Súbito de ódio, ele pinta o muro de vermelho,
suas lágrimas respingam sobre os corpos gélidos,
as histórias de amor realmente não devem existir,
 são só prefácios para grandes tragédias.

Solidão nos meus Ouvidos



Ela chorava enquanto ouvia beatles na madrugada,
nunca se sentira tão sozinha em toda sua vida,
as lembranças que ha tanto tempo guardara numa caixa
 agora estavam jogadas sobre a cama.
Seu diário de adolescente constatemente em crise
 agora não lhe dizia mais a respeito,
 era como se outra pessoa o tivesse escrito,
 como se tudo tivesse ocorrido em uma outra vida.
Ela se olhava no espelho e enxergava seu interior se desfazendo,
 caiu de joelhos no chão, seu coração tinha se quebrado,
 sua alma estava vazia, sua musica tocava
enquanto o vento entrava pela fresta
da janela velha, gasta como o tempo,
em pedaços, era a primeira vez que ela ouvia beatles.



Imagem : Susana Neto.




Partiu...




Nos vimos brevemente,
Foi como um prefacio de um livro,
ela me olhou e seus labios se contrairam,
e em seus olhos brilhavam saudade 
e escorriam uma vida para baixo.
Nas palavras dela, 
anos se passaram durante aqueles meses,
sua voz madura dizia coisas sobre a vida, 
agora era eu que chorava.
Depois de seus labios se distanciarem de meu rosto,
eu sabia, eu a amava e isso me doia forte no peito,
mas teria que ver ela partir,
 partir com um adeus tao doce
 quanto o gosto que senti uma vez de seus labios,
 EU A AMO foi o grito calado de meus labios,
 enquanto ela partia, partia para novos amores,
 partia com meu coração...








Imagem : Manuela Viola

Julieta





É mais uma na multidão,
outrora era Julieta minha amada,
hoje é apenas uma drogada,
a droga da juventude a levou.
Deixou pra trás, meus sonhos,
minhas promessas e o meu amor,
culpado fui eu, por ter me deixado
envelhecer, ter deixado me
apaixonar por uma alma tão jovem.
Não faço questão que fique,
prefiro que vá, encontre os
Romeos em sua vida, encontre
amor por esses caminhos, encontre
minhas lagrimas perdidas no tempo.
Viva, se drogue com essa tal de felicidade,
vá até onde teu corpo suplicar,
só me prometa uma única coisa,
jamais se esqueça, que és a minha Julieta.




Imagem : Rui Vale de Sousa.