Liberdade



À meia luz, com seu
jantar chique, só de
meias e camisola,
ela se deixa ser livre
naquele apartamento
grande e cheio de silencio.
Mas o cheiro dele ainda
estava no sofá, era aquela
mistura de café e pós-barba,
e ainda doía forte no peito
dela, fazia tanto tempo
que sua vida mudou,
mas pareciam dias, horas.
Entre uma garfada e outra,
se pega pensando no dia
em que se conheceram,
o quanto ela ria contando
aquela velha historia,
do quanto amava a liberdade,
que os animais não deviam
ser enjaulados, imagina só, animais.
A taça de vinho não desceu
muito bem, desceu junto com
algumas lágrimas, que pararam
na garganta, sufocaram,
mataram a noite que ia
piorando exponencialmente.
Secou as lagrimas com a manga
da camisola, encheu o copo
de orgulho e virou de uma vez só,
naquela altura para ela
o que importava era ser livre,
naquele vazio,
e silencioso lugar que era
seu coração.



Calada Noite


Os fios caem devagar,
desfilam no ar, com a tesoura
na mão e um sorriso na cara,
ela deixava seus pequenos
pedaços pelo banheiro todo.
Essa palhaçada de amor
não era mais pra ela, se
despia da sua antiga aparência,
e da sua tendência de
amar tudo que se move,
hoje ela é só dela, e quer
dançar até esse mundo explodir.
Pegou escondido as chaves
do carro da  sua mãe, e saiu
noite adentro, encheu a cara,
e o coração de alegria.
Cantou até ficar rouca,
e encantou todos que
colocaram os olhos nela.
Se cansou e voltou para casa,
entrou de fininho segurando
os saltos altos com os dedos,
deitou em sua cama quente
e finalmente deixou a noite dormir,
silenciosa e mortal,
como ela era agora.

Coisas que perdemos pelo Caminho



Ela esperou o dia inteiro ao lado
do telefone, que não tocou,
nem uma mensagem chegou,
não deu sequer um sinal de vida,
um amor morria aos poucos
naquela noite.
Ele tinha batido o carro,
estava encharcado da chuva
da tarde, sua vida andava
mais bagunçada que o seu
pequeno quarto.
Foi uma longa noite de silencio,
que não trazia paz para os
jovens corações.
Ela abriu o celular, olhou a
foto dele, e voltou a fechar,
e repetiu o ritual até dizer
que era infantil demais fazer aquilo.
Uma hora depois, ele
abriu o celular, escreveu
um texto imenso pedindo
desculpas, disse tudo que sentia
e tudo que conseguia transmitir
através de palavras, mas não enviou.
Às 6 da manhã ele acorda com
uma mensagem, dizia apenas:
              “Acabou”
ele nem respondeu, disse para
si mesmo, “não pode ficar pior
que isso”. Então, se cobriu com o
seu velho cobertor, e chorou
até adormecer.