Liberdade



À meia luz, com seu
jantar chique, só de
meias e camisola,
ela se deixa ser livre
naquele apartamento
grande e cheio de silencio.
Mas o cheiro dele ainda
estava no sofá, era aquela
mistura de café e pós-barba,
e ainda doía forte no peito
dela, fazia tanto tempo
que sua vida mudou,
mas pareciam dias, horas.
Entre uma garfada e outra,
se pega pensando no dia
em que se conheceram,
o quanto ela ria contando
aquela velha historia,
do quanto amava a liberdade,
que os animais não deviam
ser enjaulados, imagina só, animais.
A taça de vinho não desceu
muito bem, desceu junto com
algumas lágrimas, que pararam
na garganta, sufocaram,
mataram a noite que ia
piorando exponencialmente.
Secou as lagrimas com a manga
da camisola, encheu o copo
de orgulho e virou de uma vez só,
naquela altura para ela
o que importava era ser livre,
naquele vazio,
e silencioso lugar que era
seu coração.