Mulheres de Vitrine


“Era o batom vermelho e a calça justa,
era saia e o salto alto, era o perfume doce,
e toda aquela forma bruta que queria
ser moldada, a perfeição consumia as
mentes das mais fracas...” – ela escreveu
atrás da porta do seu quarto, em um velho
espelho com batom vermelho, era uma
grande ironia, onde ela sorria toda vez que lia.
Ela nunca quis ser uma dessas “mulheres
de vitrine” (como gostava de chama-las),
também não era modelo pra ninguém,
não era hipócrita pra falar que sua beleza
não importava, usava maquiagem sim,
lavava seu rosto milhares de vezes ao dia,
e usava perfume, até demais. Mas nunca
quis ouvir o que diziam ao seu respeito,
talvez realmente se importasse se ouvisse,
mas ela adorava o fato de conseguir evitar.
Naquela noite ela parecia muito com uma
mulher de vitrine, toda arrumada, pronta para
ser tirada da caixa, um homem foi ao seu lado,
estava todo de preto, cabelo pro alto,
disse  “meu deus, que coisa linda”, só vi o dedo
do meio dela se levantando e se impondo
em frente a sua cara, “a beleza é efêmera,
meu bem” – disse com sua voz de menina.
Resolvi que estava feliz só de observar,
só de ver uma vitrine quebrada por uma rebelde,
isso sim é o que os poetas poderiam descrever
sem sombra de duvida como uma mulher perfeita.




Imagem : Gil Coelho.