Encontro Marcado


De camisa e calça jeans, a melhor roupa
que encontrou em seu armário bagunçado,
o menino espera sua amada, em uma rua
de luzes amareladas, o céu azul como
o oceano em dias felizes.
De lá da para se ver o relógio da cidade,
que marca dez para meia noite, quase
na hora marcada, quase tempo para
uma felicidade imaginada.
Com a rosa molhada em suas mãos
de tanto suar, ele não agüenta mais
esperar, ensaia suas falas sem parar,
como se tudo fosse um grande teatro,
como se viver não fosse apenas improvisar.
A noite passa em minutos torturantes,
o relógio da cidade se cansou de contar
as horas, a sarjeta lhe consola enquanto
suas lagrimas caem pelos bueiros, ela
não vem, ela não ama rosas, ela não ama
rosas, ela não me ama...



Imagem: José Vaz Meneses

Dia Frio



Só restou um vazio nos meus dias,
um silencio sem fim, o seu piano
na sala de estar virou decoração,
as folhas do calendário ficaram por
todo o chão, viraram dias sem fim.
Não choveram mais razões para
te impedir de ir, comprei uma
blusa pra me proteger desses
dias frios que virão, me aqueci
com o que restava desse amor.
Adormeci em algum canto,
rezando pra não lhe encontrar
em meus sonhos, rezando pra
conseguir me livrar desse encanto
que você me jogou.
Acordei e olhei pela janela,
nossa arvore ainda esta lá viva,
não da mais frutos, nem sequer
novas folhas, mas ainda sobrevive,
como uma lembrança de algo
que foi lindo um dia.


Imagem: Antonio Jorge Nunes.

Histórias para Durmir



A distancia virou a desculpa pra essa inimizade,
vamos voltar a infância que não tivemos,
vamos nos esconder em corpos adultos e
brincar com os sentimentos dos outros.
De tanto usar mascaras seu rosto virou uma,
sempre interpretando a mocinha em apuros,
a donzela a ser resgatada, com sua amiga
ignorante lhe guiando para as profundezas,
e sem cavaleiro para lhe salvar.
Seu castelo um dia irá cair, estará sozinha
com as suas criadas e seu bobo da corte,
enquanto os cavaleiros bêbados em alguma
taverna irão estar rindo da pobre vida que leva.
A sua amiga ignorância lhe abraçara e dirá
para reconstruir o castelo mais uma vez,
até lá os cavaleiros já terão saído da historia,
eles cresceram e não lêem mais historias
que as crianças inventam para durmir.



Imagem: João Moreno.

Ato 1: Amor


Você segurou minha mão e me guiou,
nunca soube exatamente pra onde estava indo,
só segui como um cego em uma noite silenciosa,
nós paramos em algum lugar, e seus lábios
me tocaram, como uma melodia é tocada em
um velho piano.
A luz surgiu de repente, invadiu meus olhos,
não conseguia respirar todo aquele contentamento,
ela sorriu, a luz se apagou, o filme simplesmente
acabou, sem final, sem haver uma fala.
A cena mais linda que poderia ser vista,
mas não era a ultima, a luz volta, ela me olha,
mas agora existem milhares de olhares a minha volta,
milhares de vozes, julgando o amor pelo simples
fato de existir, como se a melancolia fosse o banal,
fosse o certo, como se já não houvesse tanta melancolia
no próprio ato de amar.
Ela se vira e vai embora, desaparece ao dobrar a
esquina, a maldita melancolia escorre de meus
olhos, ela se foi, as ultimas luzes finalmente se
apagam, agora sim é o fim e o começo de uma
história de amor.


Imagem: Manuel Antão.

Páginas Amarelas


Procuro um coração novo para se alugar,
com espaço para 3 amores e uma sala de estar,
um lugar aconchegante, com espaço para
guardar minhas recordações em alguma estante,
que não seja tão caro, que possa ser pago
apenas com amor.
Procuro um com vista para a felicidade,
que não precisa ser perto da cidade,
que seja seguro, que só entre quem
eu quiser que entre.
Gostaria que fosse novo, pois não
consigo mais viver nesse velho,
que esta cheio de buracos de balas,
culpa desses amores roubados.
Gostaria que fosse vermelho e
pulsasse, que ainda encontrasse
paz quando outra pessoa decidir
morar ali também.