Esperança



Ela começou uma coleção
de pequenos pingentes,
daqueles que você coloca
em um colar, ou pulseira,
gostava de carregar consigo
essas peças de sua personalidade.
Apesar dela achar aquilo a
coisa mais infantil do mundo,
ela amava fazer, e não tinha
vergonha nenhuma disso.
Todos aqueles símbolos
tinham um significado
muito importante para ela,
o de chave por exemplo
era  sobre seu avô que tinha
sido chaveiro, o de urso era seu
primo que dava um abraço
de urso toda vez que ela
se sentia triste.
A clave de Sol era sua grande
paixão, a musica sempre
guiou sua vida, nos momentos
bons e ruins, estava lá pra
dar força ou simplesmente reconfortar.
Nesse natal ela não havia pedido
nada, não era mais criança
e não ligava pra presentes,
mas mesmo assim um pequeno
pacote estava em cima de sua cama.
Com um laço delicado que se desfez
com um simples puxar, ela abriu
a caixinha branca e lá estava
um pequeno pingente de coração,
um sorriso se abriu aos poucos no
seu rosto, esse significava esperança.




Faça um pedido



Tudo começou com uma faísca,
riscou o escuro em um brilho vivo,
o pavio se acendeu, a bomba
estava armada, e ela estava rendida,
com as bochechas todas rosadas,
e a vergonha de quem odeia
ser o centro das atenções.
Enquanto as vozes gritam
ao fundo, ela pensa nos eventos
que a trouxeram até aqui.
Um ano inteiro de tropeços.
Ninguém nos ensina que
quando nos tornamos adultos
temos que voltar a engatinhar,
aprender a andar com as próprias
pernas tortas, que temos que
ser fortes nos momentos difíceis,
e sorrir nos raros momentos felizes.
Ela deveria estar sorrindo agora,
mas não, no meio daqueles rostos,
daquelas sombras todas, faltava
um sorriso, faltava um parabéns,
como eu disse, foi um ano de tropeços.
Se fez silencio na sala toda, dava até para
ouvir os corações batendo, todos
aflitos por um sinal de vida dela.
Alguém gritou bem alto, ela pensou
ser a voz dele, ou quis acreditar que fosse,
disse “Faça um pedido !”, e ela fez,
fechou os olhos, rezou e assoprou
com todas as suas forças,
então tudo era escuro novamente,
 até que uma pequena
 faísca se acendeu.


Dezoito



Ela tinha só dezoito,
mas eu não ligava,
disse que era meu numero
da sorte de qualquer jeito,
ela riu, ganhei a noite,
ganhei um beijo.
Foi exatamente o
limite entre provocar
e parar, e me deixar
com esse riso bobo,
pensando nela dois dias
depois ainda.
Ela me ligou no meio
da tarde, na pior hora,
com os papeis caindo
da mesa e eu tentando
segurar o café e o celular
no ombro.
Me pediu pra marcar de novo,
não teve medo de pedir,
fez questão de dizer o lugar
e a hora, tudo que sempre me
 atrapalha nessa brincadeira de flertar.
Duas horas depois, duas doses a mais,
e eu já era refém daquele olhar,
do beijo no pescoço,
da saia rodada,
do jeito de menina,
toda perfumada,
roubando minha noite inteira.
Na porta com a camisa amassada,
e o sorriso estendido,
ela brinca enrolando o cabelo
com a ponta dos dedos,
 para,
 me olha,
 se inclina pra frente
 e alcança meus lábios.
Quando o beijo termina,
ela sussurra devagar
“quem sabe outro dia de novo”
anestesiado, sorrio feito adolescente,
enquanto a porta se fecha atrás de mim.

Amor e Música.



Você apoiou sua cabeça
no meu ombro, uma mão
procurava a minha no escuro,
e a outra segurava a cerveja,
você respirou tão fundo que
vibrou meu corpo inteiro.
O show estava para começar,
todo mundo preparado,
o silencio ia se dissipando em falatório,
e então o som começa, meio precipitado,
sem se apresentar, chega,
invade, preenche o vazio das
conversas alheias.
Ela calmamente acompanha
a musica com os dedos entrelaçados
nos meus, somos um nesse ponto,
sentindo a mesma musica pulsar.
É meio ridículo, infantil, mas
me imagino com ela nessas
letras tortas da musica de amor,
nossos beijos na rua, a primeira
vez que segurou minha mão, quando
deixou escapar o primeiro “euteamo”,
quando eu cai na sua sala e você riu
o dia inteiro, era sobre isso que
a musica tanto insistia em falar,
em repetir em todos os refrões.
Você desatou nossas mãos,
me olhou com aquela cara de sono
de sábado a tarde, eu já sabia,
- Vamos embora ?
- Não, só vou pegar outra cerveja,
não quero perder o final dessa musica!
Abri um sorriso, e me deixei levar pela
trilha sonora da nossa noite.
O amor às vezes é só uma
musica melosa e uma cerveja  gelada.


Liberdade



À meia luz, com seu
jantar chique, só de
meias e camisola,
ela se deixa ser livre
naquele apartamento
grande e cheio de silencio.
Mas o cheiro dele ainda
estava no sofá, era aquela
mistura de café e pós-barba,
e ainda doía forte no peito
dela, fazia tanto tempo
que sua vida mudou,
mas pareciam dias, horas.
Entre uma garfada e outra,
se pega pensando no dia
em que se conheceram,
o quanto ela ria contando
aquela velha historia,
do quanto amava a liberdade,
que os animais não deviam
ser enjaulados, imagina só, animais.
A taça de vinho não desceu
muito bem, desceu junto com
algumas lágrimas, que pararam
na garganta, sufocaram,
mataram a noite que ia
piorando exponencialmente.
Secou as lagrimas com a manga
da camisola, encheu o copo
de orgulho e virou de uma vez só,
naquela altura para ela
o que importava era ser livre,
naquele vazio,
e silencioso lugar que era
seu coração.



Calada Noite


Os fios caem devagar,
desfilam no ar, com a tesoura
na mão e um sorriso na cara,
ela deixava seus pequenos
pedaços pelo banheiro todo.
Essa palhaçada de amor
não era mais pra ela, se
despia da sua antiga aparência,
e da sua tendência de
amar tudo que se move,
hoje ela é só dela, e quer
dançar até esse mundo explodir.
Pegou escondido as chaves
do carro da  sua mãe, e saiu
noite adentro, encheu a cara,
e o coração de alegria.
Cantou até ficar rouca,
e encantou todos que
colocaram os olhos nela.
Se cansou e voltou para casa,
entrou de fininho segurando
os saltos altos com os dedos,
deitou em sua cama quente
e finalmente deixou a noite dormir,
silenciosa e mortal,
como ela era agora.

Coisas que perdemos pelo Caminho



Ela esperou o dia inteiro ao lado
do telefone, que não tocou,
nem uma mensagem chegou,
não deu sequer um sinal de vida,
um amor morria aos poucos
naquela noite.
Ele tinha batido o carro,
estava encharcado da chuva
da tarde, sua vida andava
mais bagunçada que o seu
pequeno quarto.
Foi uma longa noite de silencio,
que não trazia paz para os
jovens corações.
Ela abriu o celular, olhou a
foto dele, e voltou a fechar,
e repetiu o ritual até dizer
que era infantil demais fazer aquilo.
Uma hora depois, ele
abriu o celular, escreveu
um texto imenso pedindo
desculpas, disse tudo que sentia
e tudo que conseguia transmitir
através de palavras, mas não enviou.
Às 6 da manhã ele acorda com
uma mensagem, dizia apenas:
              “Acabou”
ele nem respondeu, disse para
si mesmo, “não pode ficar pior
que isso”. Então, se cobriu com o
seu velho cobertor, e chorou
até adormecer.


Pra um Inverno mais lindo



Toda manhã ela acordava
com o cabelo bagunçado,
a cara amassada, e uma vontade
louca de comer sorvete,
se continha por que achava
que estava acima do peso,
pura imaginação dela.
Se olhava no espelho e realmente
não gostava do que via,
sempre se achou a mais feia
das amigas, devia ser por isso
que nenhum garoto se interessava
por ela, colocou aquilo na cabeça,
e diz que aceitava sua feiura natural.
Colocou a roupa mais quente e
mais confortável que tinha, não
importava se as meias não combinavam
com a calça, ou se o suéter era de
tema de natal e ainda faltavam
meses para dezembro, ela realmente
gostava dessa liberdade que só
sua “feiura” podia lhe proporcionar.
Estou sentado na cafeteria do bairro,
e observo entrar a menina mais bonita
que vi na vida, com o cabelo despenteado,
e um suéter de renas, toda feliz e solta.
Depois de alguns segundos decido que
vou deixar pago o café que ela bebia
sozinha na mesa, o rapaz do caixa
me entendeu perfeitamente, e perguntou :
- Quer deixar algum recado para ela ?
- Só diz que ela é linda.
Pego meu casaco e sigo rua a fora.

Viver dias de Verão



O sol nasceu no horizonte,
você dormiu de óculos escuros
com o cabelo na cara, toda
encolhida no banco do carro,
de vez em quando tinha que
me lembrar de olhar para estrada,
você me hipnotiza até dormindo,
mas isso é um segredo meu.
O asfalto esquentava enquanto eu
acelerava rumo a lugar nenhum,
você sempre quis jogar o mapa
pela janela, e esse dia finalmente
chegou, enchi o tanque de gasolina,
e saímos atrás desse nosso sonho
 louco de viver sem roteiro.
Encostei no acostamento verde,
pra poder te amar enquanto
o dia morria sobre o retrovisor,
e dormi no teu abraço, você
me aqueceu a noite toda.
E fomos até onde deu, até
onde conseguimos chegar,
lá no meio do nada, com
a fumaça voando do capo
do carro, com o verão acabando,
e a noite chegando, eu soube,
tive certeza, sem medo,
eu te amava.

Rosas



Ele colocou uma gravata,
odiava esse tipo de roupa,
mas parecia que aquela ocasião
pedia tal vestimenta, colocou
a mão no bolso e alcançou
uma pequena caixinha preta.
Dentro dela dois anéis de prata,
dois corações aflitos, duas palavras,
Sim e Não, dois futuros distantes,
havia tanta coisa dentro daquela
caixa que ele mal conseguia segurar.
Se olhou uma ultima vez no espelho,
amarrou o sapato engraxado, pois
o melhor sorriso forçado na cara e foi,
abriu a porta pronto para encarar o mundo.
Volta, corre, abre a porta, cai a chave,
e já começa cair uma gota de suor no chão,
ele esqueceu das rosas,
as malditas rosas que ela tanto gosta,
ela disse no primeiro encontro
que amava rosas e nunca tinha
ganhado nenhuma na vida.
Coração em uma mão, e no outro as rosas,
agora sim, ele estava pronto, estava
preparado para o inesperado, para
se entregar junto com as rosas para ela.
Por que naquela noite, tudo que
importava, eram as rosas....

era o amor.


A Carta de uma Julieta



Essa é a primeira vez que lhe escrevo,
sentado aqui olhando pela décima vez
a carta que a tempos você me escreveu,
me pergunto por que nunca fiz isso antes,
enfim, hoje à noite você é a minha Julieta.
É estranho, mas eu sempre te notei,
era aquela menina com o sorriso lindo
que ficava no canto da sala, que
ria das minhas piadas sem graça,
que dava abraços significativos,
você sempre foi especial mesmo sem querer.
Parecia inevitável a gente se aproximar,
éramos como dois imãs dançando,
ora se atraiam, ora se repeliam, mas no
fim sabíamos que acabaríamos juntos.
Lembro de um dia, que segurou minha
mão, com tanta naturalidade, com
tanta vontade, que me senti seguro
ao seu lado, que me senti amado,
do jeito mais puro que se ama alguém.
Você falou pra mim, vá atrás dela,
aquieta esse teu coração juvenil,
e eu fui, mesmo sabendo que
parte dele ali era teu, eu fui.
Corri em círculos durante meses...
E então quando estava esgotado,
não sobrara nem mais um pingo de mim,
acho sua carta empoeirada dentre
meus livros, e só então,que eu volto a sorrir.



Obrigado.

Azul é a cor mais quente.



- Vou chama-la de azul,
ela sorriu, achou graça,
então me convenci que
era um bom apelido,
um ótimo código que
só nós saberíamos.
Azul chegou toda alegre,
pegou meus óculos,
colocou no rosto e começou
e me imitar, digo que é sem
graça, mas já estou com
um sorriso inteiro só pra ela.
Ela senta no meu colo,
e me da aquele beijo
que só azul sabia dar, a pele
salgada dela encosta na
minha, arrepia, estou perdido.
E agora só ela sabe me
fazer achar o caminho de
volta, segura minha nuca
com força, e volto a mim,
volto para seus lábios finos,
seu pescoço descoberto.
Só acordo de fato no outro dia,
com o cheiro de café, e azul
de meias e com minha camiseta,
fiz questão de nunca esquecer
essa cena exata...
Azul foi,  é , e sempre será a
cor mais quente que já conheci.

Lost Stars



Eu era apenas um menino
perdido na noite, olhando
todas aquelas estrelas solitárias
no céu, quando você sentou
ao meu lado, pediu um cigarro,
e fizemos as nuvens daquela noite.
Toda noite eu sentava no parapeito
do prédio, e você já estava lá,
dava um sorriso de canto de boca,
que iluminava o quarteirão inteiro,
 mal conversávamos, só me contava
seu dia bem baixinho perto do meu ouvido,
então eu não me sentia mais só
nesse mundo escuro.
Dividíamos o fone de ouvido,
e ouvíamos suas canções de amor
gritadas por algum vocalista,
que estava de coração partido,
foi a minha trilha sonora durante
aquele ano inteiro.
Não lembro por que nunca mais
nos falamos, acho que algum dia
não tinha mais nada pra ser dito,
mas ainda lembro da nossa ultima noite.
Foi quando eu dei o seu nome para uma estrela...
depois que você foi embora
olhei muito pouco para o céu,
 mas ontem eu olhei, e juro que
 vi a estrela brilhar pra mim.

Tempo Perdido



Mal senti minha mão desatar da tua,
foi tão natural, um momento éramos
felizes, e então lá estava eu parado,
enquanto você continuava a caminhar
sozinha naquele caminho de pedras.
Você não sentiu minha falta, e
eu cada vez menos a sua, quando
se deu por si, estava falando para o
chão o quão ruim tinha sido seu dia.
Eu fiquei imóvel, me dava conta
que nada mais importava, todos
os poemas que havia escrito,
todas aquelas rosas pelo caminho,
todo aquele... Tempo perdido.
Lá vinha ela correndo na minha
direção, segurou minha mão,
que agora não era mais dela,
olhou nos meus olhos, e chorou.
Era o fim, ninguém precisava
dizer mais nada, dei um beijo
em sua testa, e gentilmente me afastei,
com um aceno suave com a cabeça,
me viro e parto em direção ao sol,
e que se dane tudo que ficou para trás.

Toda Manhã.



O dia se aquietou pra não
te acordar, até os pássaros
decidiram dormir um pouco
mais, você fica ainda mais linda
enquanto dorme, a luz que entra
pela janela ilumina seu rosto,
queria ser um diretor de cinema
 para te filmar com meus olhos
neste momento, simplesmente
te eternizar em minha mente.
Você acordou, abriu os
olhos lentamente, olhou
para mim e voltou a fecha-los
com um sorriso no rosto,
estou em paz agora,
fazer alguém feliz só por
estar ali já faz minha felicidade completa.
Sigo com meus dedos seu ombro
descoberto até seu pescoço,
sua pele arrepiada, e seu cheiro
bom, que nunca muda, não importa
o perfume que você use, e seus
lindos olhos que me encaram.
Poderia passar uma vida inteira
naquela manhã, mas a vida
nunca me espera, e lá fui
eu fazer o café em
mais uma linda manhã comum.

Sonhar acordado.



Sempre pensei que eu seria um astro do rock,
ou um ator famoso, alguém importante,
uma pessoa a ser lembrada,
teria meu nome estampado em alguma
capa de livro ou coisa do tipo,
mas se alguém for se lembrar de mim algum dia
será por que sempre fui um apaixonado.
Me apaixonei por ela, morena,
olhos castanhos que envolviam sua pupila negra,
seria exatamente como eu descreveria o universo
se fosse um poeta, lábios finos, e em seu nariz
 um piercing com tanta personalidade
que se esconde num rosto tão lindo.
Naquele momento já era capaz de descrever
nosso apartamento decorado, nosso cachorro,
a propósito um labrador, e nossas conversas
com nossos pais do por que ainda não queríamos ter filhos,
e então uma mão repousa em meu ombro e me dou conta
que estou no meio do caminho de alguém,
olhando para ela enquanto ela trabalhava.
Juro que vi ela me olhar do outro lado do salão,
e sorrir como quem diz que sabe que passei
 o tempo todo sonhando com ela,
acabou a festa e ela fica enquanto me afasto,
tenho medo de lhe dizer tudo que senti
naqueles minutos, não estou me negando a ser feliz,
mas deixemos que o destino faça sua parte,
enquanto isso continuo a sonhar.