Encho o copo para esvaziar o coração,
enquanto o gelo morre aos poucos em laranja,
meu sorriso amarelo se inflama com o pouco
de álcool que se espalha dentro de minha garganta,
logo estou em brasas, arde tanto que me esqueço
da dor no peito, finalmente me sinto bem.
A velha vitrola da sala não esta no melhor do
seus dias, por isso toca baixinho, quase em segredo
para mim, as lindas canções de um coração incurável,
dos meus poetas suicidas preferidos.
Mais uma dose, e não sinto mais a ponta
de meus dedos, o copo dança em torno do ar,
numa queda livre em direção ao piso de madeira,
e lá se partilha em milhares de pedaços,
o cheiro seco de uísque barato apodera o cômodo.
É o fim, aqui me despeço cordialmente dessa
vida de amores baratos engarrafados sem rotulo,
abro a porta rangente do mini bar no canto
da sala, pego um novo copo e o encho,
faço um ultimo brinde para a sala vazia,
e então bebo meu doce veneno.
Meu néctar do esquecimento começa
a fazer o efeito esperado, em pouco
tempo serei criança novamente correndo
livre pelas ruas, sem se preocupar, sem amor,
sem dor, sem nada...
Imagem : We Heart It_@johanna296