A M O R




Rasgo o verso mal escrito,
não mereces tais palavras singelas,
mesmo inventado, meu poema é sincero,
insatisfeitos meus dedos estão,
se perdem na maquina de escrever,
tentando te descrever, te inventar.
Desenhei um rascunho
de estória nas tuas costas nuas,
num rosa fresco de verão,
posso morrer de amor agora,
não há mais por que respirar.
Eu vivi o mais sincero
dos amores inventados,
imaginado por minha mente torta,
e sentido pela minha pele arrepiada.
Estou feliz,
me sinto finalmente completo,
abro os meus olhos devagar,
minhas mãos se levantam
em um movimento suave,
acabou.
Não tenho que me preocupar
em não te esquecer, é só pegar
outra folha em branco, e a reescrever.

Eu ainda espero.




Você partiu sem se despedir,
deixou minha carta e meu amor aqui,
não houve palavras suas pra me
descrever o fim, o fim.
Nas manhãs de novembro ainda
te espero, com o café na mesa
e o olhar disperso, saiba que
ainda a espero, sim, que sim.
Eu ainda te espero no altar,
com a rosa na mão atrás de mil desculpas,
ainda espero você dizer que sim,
espero que não seja tarde pra ser feliz,
ainda espero você,
dizer que sim, dizer que sim.
Por isso corre, larga tua mala e corre,
e corre pra mim, corre pra mim,
que ainda lhe espero aqui,
pra te dizer que,  sim !




Imagem :  J. Wiley

Um último brinde.


Encho o copo para esvaziar o coração,
enquanto o gelo morre aos poucos em laranja,
meu sorriso amarelo se inflama com o pouco
de álcool que se espalha dentro de minha garganta,
 logo estou em brasas, arde tanto que me esqueço
da dor no peito, finalmente me sinto bem.
A velha vitrola da sala não esta no melhor do
seus dias, por isso toca baixinho, quase em segredo
para mim, as lindas canções de um coração incurável,
dos meus poetas suicidas preferidos.
Mais uma dose, e não sinto mais a ponta
de meus dedos, o copo dança em torno do ar,
numa queda livre em direção ao piso de madeira,
e lá se partilha em milhares de pedaços,
o cheiro seco de uísque barato apodera o cômodo.
É o fim,  aqui me despeço cordialmente dessa
vida de amores baratos engarrafados sem rotulo,
abro a porta rangente do mini bar no canto
da sala, pego um novo copo e o encho,
faço um ultimo brinde para a sala vazia,
e então bebo meu doce veneno.
Meu néctar do esquecimento começa
a fazer o efeito esperado, em pouco
tempo serei criança novamente correndo
livre pelas ruas, sem se preocupar, sem amor,
sem dor, sem nada...






Imagem : We Heart It_@johanna296

Noite sem Estrelas.


A noite nos abraçava calorosa,
só dava tempo de calçar meus tênis
e lá íamos nós dois, na nossa aventura
particular, os outros nos deviam achar
meio loucos, mas quem nunca perdeu
a sanidade para a noite que nos julgue,
eu saltava e corria a passos largos.
A noite veio para nos libertar dessa
merda de semana, desse mal estar
que eu sentia todo domingo a noite,
você sempre corria a frente,  como se fosse
alcançar a felicidade se chegasse primeiro.
Como sempre paramos no nosso lugar,
algum dia podia ter sido o lugar de alguém,
mas agora era nosso, e só nosso,
e aqui fingíamos que víamos as estrelas,
e você me contava a mesma historia
de quando se perdeu no acampamento.
Depois de me explicar como você
chegou a salvo em casa se guiando
pelas estrelas, nós nos olhávamos,
e gargalhávamos a noite inteira.
O sol chegara, e me cegava
no abrir dos olhos, enquanto
eu apenas desejava mais
uma noite sem estrelas.




Imagem : Mario Pin.

Maré Alta


O sol colide com o Oceano,
e por um segundo tudo se torna laranja,
e depois volta a ser a mesma escuridão
profunda onde apenas as estrelas
são convidadas para a festa.
Da janela da minha cabine quase da pra ver
um farol, parece abandonado, como se
alguém tivesse ligado ele apenas para
ajudar quem se perde no mar, acho
bom ele me guiar para o caminho certo,
estou perdido aqui, sem bussola,
e sem aquele seu mapa para a felicidade.
A maré alta me invadiu, me afoguei
nas lagrimas que jorravam sem parar,
não quero perder minha sanidade
por que a cada balançar desse navio
a tua falta cede meu peito, mais e mais.
Naveguei para onde achei que era o Norte,
só havia o som da agua batendo no meu
queixo, me segurei num bote amarelo,
a única coisa que me impedia de afundar
era sua foto que pendia entre meus dedos molhados,
aqui me encontro, rendido, desejando apenas
que a maré alta me carregue para um lugar bom.




Imagem : Puca Ribeiro.

Sina


Me apaixonei pelos seus olhos falsos,
e sua falta de delicadeza, e sua terrível
queda por sobremesas, vai saber,
só a vi e já soube que era ela,
agora a protagonista dos meus pensamentos.
Me falta coragem nessa vida,
nem teu nome soube como perguntar,
escrevo tudo isso apenas pelo fato
de crer nessa maldita sina torta,
que comanda a minha vida.
Rezo para que me encontre,
que encontre minhas migalhas de pão,
meu caminho de tijolos dourados,
para que eu possa respirar novamente,
depois de tanto segurar meu folego,
quando a vi partir gargalhando pela esquina.
Ó maldita sina, seja boazinha com
quem nasceu sem sorte alguma,
e cruze essas linhas encruzáveis
que são nossas vidas.
Se por algum motivo a sina sorrir para mim,
me procure por aí, meu nome é Lucas,
muito Prazer.




Imagem  : Antonio Jorge Nunes.

Em algum lugar do Passado


Por alguma razão cada lembrança minha
tem um aroma, um gosto que ficou no ar,
e foi capturado como uma fotografia aromática,
uma pintura se forma e se transforma dentro
de mim, dentro do breu dos meus olhos selados.
Neste cheiro calmo, de um Janeiro calado,
de protetor solar, e de falta de ar, é onde
eu me encontro, sempre estarei aqui
com meu violão esperando você,
na calçada irregular, com meu melhor
Tenis e meu mais sincero sorriso.
Lá esta você, olhando pra mim,
respirando fundo antes de falar,
sua mãe esta nos olhando pela
janela, eu sei, mas não há mais
por que esconder o fato que
estamos tremendamente apaixonados.
Você me olha daquele jeito que quando
o Sol invade a escuridão dos seus olhos
eles brilham, como uma reposta pro Sol,
uma resposta pra mim, então começo
a dedilhar as velhas cordas do violão,
só sei essa musica, mas não tem problema,
por que é a sua preferida mesmo.
O sol vai morrendo aos poucos,
escurece devagar, até eu não conseguir
mais te enxergar, ainda escuto o violão,
e sinto sua mão no meu pescoço, e
agora não há som algum, só sinto o calor
que sua mão deixou em mim, tudo se vai,
só me resta esse cheiro doce e calmo,
minha chave secreta para esse momento.




Imagem : Demétrio Sena

Sonhador


Sempre gostei de inventar historias,
quando era criança sonhava em ser
cientista, para poder inventar uma cura
 para os adultos que tanto choravam,
e estavam sempre tristes se escondendo
pelos cantos, como se a tristeza fosse
algo contagiante, um vírus.
Eu tinha um caderninho, lá escrevia
meus sonhos mais profundos, como
ter uma família feliz dessas de comerciais
de TV, viajar o mundo inteiro, ser feliz,
ser amado e poder amar de volta,
e até fazer uma tatuagem e rir dela depois
que estiver bem velhinho.
Não sei o que houve, não virei cientista
e perdi o caderninho, acho que eu esqueci
a importância de sonhar, ou simplesmente
me deram uma porção daquele vírus de adulto.
Agora enxergo tudo com esse tom amarelo seco
de verdade, parei de escrever, de inventar historias,
parei de sonhar, minhas noites se tornaram apenas
uma escuridão sem fim, alguém assoprou todas
as estrelas até elas se apagarem em mim.



Imagem : Alvaro Roxo.

Mulheres de Vitrine


“Era o batom vermelho e a calça justa,
era saia e o salto alto, era o perfume doce,
e toda aquela forma bruta que queria
ser moldada, a perfeição consumia as
mentes das mais fracas...” – ela escreveu
atrás da porta do seu quarto, em um velho
espelho com batom vermelho, era uma
grande ironia, onde ela sorria toda vez que lia.
Ela nunca quis ser uma dessas “mulheres
de vitrine” (como gostava de chama-las),
também não era modelo pra ninguém,
não era hipócrita pra falar que sua beleza
não importava, usava maquiagem sim,
lavava seu rosto milhares de vezes ao dia,
e usava perfume, até demais. Mas nunca
quis ouvir o que diziam ao seu respeito,
talvez realmente se importasse se ouvisse,
mas ela adorava o fato de conseguir evitar.
Naquela noite ela parecia muito com uma
mulher de vitrine, toda arrumada, pronta para
ser tirada da caixa, um homem foi ao seu lado,
estava todo de preto, cabelo pro alto,
disse  “meu deus, que coisa linda”, só vi o dedo
do meio dela se levantando e se impondo
em frente a sua cara, “a beleza é efêmera,
meu bem” – disse com sua voz de menina.
Resolvi que estava feliz só de observar,
só de ver uma vitrine quebrada por uma rebelde,
isso sim é o que os poetas poderiam descrever
sem sombra de duvida como uma mulher perfeita.




Imagem : Gil Coelho.

Nossas Brigas.


- Desculpa ! eu te amo !
ela nem se deu ao trabalho de olhar para tras,
como sempre eu tinha começado a briga,
e eu não sei como mas, ela conseguia por a culpa
em mim, e eu acabava aceitando, não por
simplesmente acabar com a discussão, mas por
que ela realmente tinha razão.
Dizer “discutimos” é muito mais bonito,
menos agressivo sabe ? do que dizer “brigar”,
mas muitas vezes ela me dava uns tapas
em meio aos berros e revoltas alheias,
então eu digo “brigamos”, sem olhos
roxos, sem arranhões, mas totalmente
machucados, da forma mais dura da palavra.
Eu corri de novo na direção dela,
agarrei seu braço de forma suave,
e ela se desvencilhou dele, e me
mostrou o dedo do meio, você pode
achar que a briga ainda estava acontecendo,
mas acredite em mim, aquilo era o começo
da pequena trégua, ela baixou a guarda.
Puxei ela rapidamente pra mim, desviou o olhar,
mas eu fiquei ali parado, segurando ela de frente,
ela me olhou nos olhos, aqui nesse ponto lê se
“perdão” dentro dos meus olhos, ela limpou
com a mão as duas ultimas lagrimas de seu rosto,
e disse em alto em bom som, a ponto de me envergonhar,
“EU QUERO SORVETE, AGORA !” – fim da discussão.



Imagem : Jorge Coimbra.

Amores Perdidos.


Ela acordou mais cedo naquela manhã de Janeiro,
decidiu fazer torradas para o café da manhã,
de meias, calcinha e uma camiseta de banda de rock
esbanjava sensualidade pra si mesma, já que morava sozinha
e não era do tipo que dormia com todos os caras do mundo.
As torradas queimaram de novo, esqueci de mencionar
que ela é desastrada também, ligou o chuveiro e o radio
na pia, não se importava em causar um curto circuito,
apenas queria ouvir suas musicas no banho, era sua terapia,
já semi seca e vestida, correu e pegou uma torrada só,
como sempre em tudo na sua vida, ela estava atrasada.
Era uma manhã qualquer, como todos os dias, ônibus lotado,
e mente vazia, só o som do Foo Fighters em seus ouvidos,
ao descer do ônibus tropeçou e quase caiu de cara no chão,
tênis desamarrado, “que burra !” ela fala pra ela mesma,
sim, ela usava tênis, nunca usou salto alto, nem sandália,
melissa, bota, NÃO, - só tênis, muito obrigado.
Finalmente chegou no serviço, era bibliotecária, passava
o dia com os maiores amores de sua vida, os livros,
mas naquele dia algo estava diferente, talvez fosse apenas
a desorganização mortal da menina da tarde, que deixava
tudo pra ela fazer, todos os livros deveriam voltar pra prateleira
de manhã, como se fosse um truque de magica, “Vaca” pensou.
Enquanto colocava tudo em seu devido lugar, achou uma
folha amarelada dentro de uma capa, era uma carta, com aqueles
selos antigos, de cera vermelha, com símbolos, era endereçada
para Julieta, “Maldita Julieta, sujando meus livros” disse alto demais.
Jogou a carta no lixo preto atrás do balcão, e lá foi continuar
sua procrastinação com seus amores nas mãos, ela esbarrou na
minha cadeira ao passar, “Mil desculpas, não te vi” me disse,
quando colocou Romeu e Julieta na prateleira, parou e pensou,
voltou correndo para o lixo, mas não havia mais nada lá.
É uma pena ela nunca saber que era ela a tal da Julieta.




Imagem: Manuel Passos.

Férias pro Coração.


As faixas da estrada pareciam
uma única linha branca pintada
por uma criança de 5 anos,
o vento voava pela janela,
entrava por um lado, pairava
alguns segundos sobre minha
cabeça e depois fugia do outro lado.
Hoje era um dia comum,
mais um dentre tantos,
mas eu simplesmente resolvi esquecer,
esquecer que você estava a menos
de 10 Km de onde eu estava,
e que eu simplesmente te amava.
Parei perto de uma cachoeira,
eu costumava vir aqui antes de
te conhecer, era aqui que
onde eu finalmente podia
respirar, depois de meses de
falsas paixões, de amizades
amarelas, depois desse seu silencio.
Fiquei ali sonhando, até minhas
pernas doerem, no caminho de
volta, fugi de todas as placas
que me levavam pra você,
- só por hoje – falo baixinho
pra mim mesmo, pra me
convencer.



Imagem : Fábio Saar.

Eterno Segundo Novo.


Lá estava ela, toda de branco,
toda arrepiada por causa
daquele vento fresco,
ela me puxou pela mão, e eu fui,
me choquei contra a pequena
onda da praia silenciosa,
era como se ela tivesse criado
um mundo novo só para nós,
um mundo com contagem
regressiva pra acabar, até
podia ouvir algumas vozes
gritando dez, nove, oito...
Na paisagem perfeita surgiam
pinceladas coloridas, que
se expandiam sobre o céu,
e caiam devagar até tocar
o mar, se duplicando e se
desfazendo na água.
Ela segurou minha cintura
e me puxou pra perto,
não, eu não a beijei,
só mergulhei em seu cheiro,
tudo durou eternos segundos,
de um eterno ano novo.