Amores Perdidos.


Ela acordou mais cedo naquela manhã de Janeiro,
decidiu fazer torradas para o café da manhã,
de meias, calcinha e uma camiseta de banda de rock
esbanjava sensualidade pra si mesma, já que morava sozinha
e não era do tipo que dormia com todos os caras do mundo.
As torradas queimaram de novo, esqueci de mencionar
que ela é desastrada também, ligou o chuveiro e o radio
na pia, não se importava em causar um curto circuito,
apenas queria ouvir suas musicas no banho, era sua terapia,
já semi seca e vestida, correu e pegou uma torrada só,
como sempre em tudo na sua vida, ela estava atrasada.
Era uma manhã qualquer, como todos os dias, ônibus lotado,
e mente vazia, só o som do Foo Fighters em seus ouvidos,
ao descer do ônibus tropeçou e quase caiu de cara no chão,
tênis desamarrado, “que burra !” ela fala pra ela mesma,
sim, ela usava tênis, nunca usou salto alto, nem sandália,
melissa, bota, NÃO, - só tênis, muito obrigado.
Finalmente chegou no serviço, era bibliotecária, passava
o dia com os maiores amores de sua vida, os livros,
mas naquele dia algo estava diferente, talvez fosse apenas
a desorganização mortal da menina da tarde, que deixava
tudo pra ela fazer, todos os livros deveriam voltar pra prateleira
de manhã, como se fosse um truque de magica, “Vaca” pensou.
Enquanto colocava tudo em seu devido lugar, achou uma
folha amarelada dentro de uma capa, era uma carta, com aqueles
selos antigos, de cera vermelha, com símbolos, era endereçada
para Julieta, “Maldita Julieta, sujando meus livros” disse alto demais.
Jogou a carta no lixo preto atrás do balcão, e lá foi continuar
sua procrastinação com seus amores nas mãos, ela esbarrou na
minha cadeira ao passar, “Mil desculpas, não te vi” me disse,
quando colocou Romeu e Julieta na prateleira, parou e pensou,
voltou correndo para o lixo, mas não havia mais nada lá.
É uma pena ela nunca saber que era ela a tal da Julieta.




Imagem: Manuel Passos.