A vida inteira




Ele chorou.
Fazia 50 anos que não
chorava daquele jeito,
as lágrimas até se perderam
no meio de tantas rugas,
de tantas marcas de vida,
vida feliz, eram marcas de riso
que se agarraram ali.
As lágrimas finalmente
encontram o sorriso aberto,
sempre me disse, a vida inteira
 “se for pra você chorar que
chore de felicidade”, e lá
estava ele a 50 anos sorrindo.
Ela entrou, estava de branco,
sem buque, sem maquiagem,
sem disfarces, eram amantes
a vida toda, não seria agora
que ela começaria a se esconder.
Sua filha, morena, linda, feliz,
acompanha ela pelo caminho
até o grande amor de sua vida.
Sem pressa, elas andam juntas,
como quando ela era pequena,
e sua mãe a levava ao parquinho,
balançando os braços levemente, felizes.
Quando ela finalmente chega,
ele a recebe, com um delicado
beijo na testa, da mesma forma
que fizera a tantos anos atrás,
a abraça devagar, alcança
seus ouvidos apenas para
lhe dizer:
 “Onde você estava?
Estava aqui te esperando a 50 anos”
Ela abriu um sorriso de 20,
e se entregou as
 lágrimas também.