Quando chove aqui dentro



A gente sabia que hora ou outra choveria,
mas mesmo assim decidimos nos arriscar,
você pegou sua bolsa preta, aquela que
eu te dei no dia dos namorados, pôs seus
óculos escuros e saiu sorrindo, correndo
a minha frente, nunca entendi essa sua
pressa pro inevitável.
Andamos até nossos pés se cansarem,
então você deitou no parque, sem cerimonia,
sem medo de se sujar na grama viva,
colocou sua cabeça no meu colo,
enquanto víamos o sol dormir sobre os
lindos prédios do seu bairro.
Já era hora de voltar, pro lugar
onde a gente se sente mais perto
um do outro, nosso lar, que você insiste
em chamar de casa, e eu sempre
esqueço de te corrigir.
Deitado no sofá eu dormi, e acordei
no outro dia quando a porta bateu,
você não se aguentava de pé, a previsão
do tempo dizia tempo seco, mas dentro
de você chovia, que chegava transbordar.
Fiz questão de te abraçar sem guarda chuva,
e me molhar inteiro, e deixar chover pela sala
toda, enquanto eu contava alguma piada sem
graça, você ria e chovia.
Até que o tempo mudou, fez sol de madrugada,
enquanto você dormia sossegada,
e eu cuidava de assoprar as nuvens pra longe.